É o gabinete do deputado António Fontes, na Rua da Alfândega, que empresta a sede à candidatura do PND. Sentados frente-a-frente, está o assessor Márcio Amaro - que prepara o material para a rábula de Manuel Bexiga, cujo tema foi mantido em clima de secretismo quase até à hora da intervenção - e Joel Viana, secretário-geral do partido, que vai lançando na Internet os vídeos das acções de campanha. "O tempo de antena já tem mais de 31 mil visitas no 'Youtube'" constata.
À entrada da pequena sala não estávamos à espera de encontrar uma fotografia do Papa Bento XVI. Haverá aqui alguma inspiração democrata-cristã? "Foi um colega nosso que é muito católico e colocou aí", respondeu Joel Viana, sem disfarçar a expressão de ironia. Do outro lado da mesa, percebe-se que batemos à porta certa do gabinete. Lá estava a caricatura de Alberto João Jardim, com os olhos esbugalhados e em espiral, que é já uma imagem de marca da autoria de Eduardo Welsh.
Márcio Amaro sai em passo acelerado e até parece que vai em socorro de alguém. Na mão leva um saco com um estojo de primeiro socorros: soro, ligaduras e uma cruz encarnada. "A acção de campanha de hoje (última quarta-feira) é um sonho antigo do Gil Canha", revela, sem adiantar muito sobre o texto da intervenção que decorreria ao meio-dia, junto ao estádio dos Barreiros.
Levaram-nos até àquele que pode ser considerado o covil do PND. Abre-se a porta da garagem e lá está o carro mortuário. Entre a poeira, o cheiro a mofo e a luz ténue, descobrem-se relíquias de outras campanhas: os bonecos do coelho de relógio ao pescoço, o caixão onde foi enterrada vezes sem conta a corrupção e a imagem de José Manuel Coelho que rapidamente foi virada contra a a parede. Há ainda ali uma escultura em gesso de um homem em pose burguesa e autocrata: gordo, calvo e de charuto na boca.
"Vou buscar uma cana à fazenda para pendurar o soro no arame. O garrafão já está lá dentro". Chegou Gil Canha, o mentor da iniciativa do dia. Lá dentro, Márcio Amaro já iniciou a mutação. De botas de borracha, calças de bolsos pendurados e camisa de mangas arregaçadas, começa a nascer outra personagem que improvisa o 'camarim' ali mesmo à volta do carro mortuário, servindo o retrovisor de espelho para as rosas do rosto de Manuel Bexiga.
Das mãos do vereador na Câmara Municipal do Funchal não sai apenas as ideias. É Gil Canha quem cria o cenário. Enquanto torce uns arames para pender, ao suporte de apoio, o garrafão que serve de saco do soro para Manuel Bexiga, na carrinha já trouxe a cama de armação em ferro e colchão de palha para 'internar' o homem à porta do Estádio dos Barreiras, numa rábula que critica a primazia dada pelo Governo Regional ao desporto em detrimento da Saúde.
"A foice! A foice é importante!", lembra Gil Canha. O artista faz um ensaio, soltando duas ou três frases. O vereador reage com gargalhadas. Os dois percebem que a coisa vai funcionar bem e que, mesmo assim de improviso e sem guião, a coisa vai ter piada.
O carro funerário com um saco de notas de euros no lugar do morto, saiu da garagem 20 minutos antes da hora da actuação. O secretismo do PND em torno do covil onde o velhinho Bedford dorme quase parece querer satirizar o filme 'Regresso de Batman'. Só que no filme madeirense é Manuel Bexiga quem regressa ao palco. Já fez 3 mil quilómetros com ao volante do carro funerário, arrancando velocidades ao Bedford de 1980, a caminho das actuações. Pela rua, ouviu-se: "Olha o carro do Coelho". Mas do coelho só restam as pontas das orelhas, ainda coladas ao vidro.
"Mais uma para pô-lo doente!"
Hélder Spínola esteve durante a manhã na Escola da Torre, em Câmara de Lobos, onde foi deu uma conferência sobre ambiente. "Não fui desconvidado", ironiza o professor universitário e ex-presidente nacional da associação ambientalista Quercus.
Quando Bexiga chegou aos Barreiros, já lá estava toda a gente: do PND e a comunicação social à espera. Os militantes montaram o cenário e Bexiga arrumou, em 2:30, a conferência de imprensa com um número humorístico sem gaguejar.
"Mais uma para pôr o Alberto João doente!", regozija-se Gil Canha, deslumbrado com a realização daquela cena que idealizou. Joel Viana e Tomás Freitas dão cobertura à rábula, filmando e fotografando, para publicar no site do partido e no 'Youtube'.
Queixa no MP contra Guilherme
O reencontro após o almoço tem sempre lugar marcado na esplanada do café 'Leque'. Gravámos a entrevista com a Praça do Município em plano de fundo para que, às 15h30, Hélder Spínola formalizasse a queixa-crime por difamação contra Guilherme Silva. Em causa, as declarações do candidato do PSD-M, que chamou mentiroso ao cabeça-de-lista do PND, a propósito da denúncia sobre a não declaração dos rendimentos de Guilherme Silva junto do Tribunal Constitucional.
A queixa acabou por ser formalizada quanto faltavam apenas quatro minutos para o fecho dos serviços do Ministério Público (MP). Valeu a corrida do 'maratonista' Joel Viana que trouxe a fundamentação jurídica do gabinete de advocacia de Baltasar Aguiar, na Rua 31 de Janeiro.
A comitiva seguiu para a Praça Colombo. Na esplanada reuniu-se o núcleo duro do PND: Gil Canha, Eduardo Welsh, Baltasar Aguiar, Márcio Amaro, Hélder Spínola, Dionísio Câmara, Joel Viana e Tomás Freitas. Sobre a mesa, estava o croqui com o mapa da área da Central Térmica da Vitória, que seria inaugurada pouco depois (na última quarta-feira). A missão era conseguir que a acção de campanha penetrasse no perímetro do parque de estacionamento e fosse vista por Jardim e pelos convidados. "Se a inauguração é às seis já lá devíamos estar com o carro funerário", refere Gil Canha. O relógio marcava 17h20.
Fonte: DN Madeira