O Papa Francisco afirmou hoje em Roma que a "proeminência da ganância" do mercado capitalista está a reduzir os alimentos a simples mercadorias, sujeitas à especulação financeira.
Discursando na segunda Conferência Internacional sobre Nutrição organizada pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, em inglês) e OMS (Organização Mundial de Saúde), que decorre em Roma até dia 21 novembro, Francisco defendeu o reforço dos apoios aos mais pobres, retirando o peso da especulação ao comércio dos alimentos.
"Dói constatar que a luta contra a fome e a desnutrição é dificultada pela prioridade do mercado e pela proeminência da ganância, que reduziram os alimentos a uma mercadoria qualquer, sujeita à especulação, inclusive financeira", afirmou o líder da Igreja Católica.
"Hoje em dia fala-se muito em direitos, esquecendo com frequência os deveres" e "talvez nos preocupemos muito pouco com os que passam fome", acrescentou Francisco, no seu discurso.
"Enquanto se fala de novos direitos, o faminto está aí, na esquina da rua", avisou, salientando que quem é pobre merece consideração pelo resto da sociedade: "Pede-nos dignidade, não esmola".
No encontro sobre Nutrição, o papa apelou à "comunidade internacional para que saiba escutar o chamamento desta conferência e considere esse chamamento uma expressão da comum consciência da humanidade: dar de comer aos famintos para salvar a vida no planeta".
O papa foi recebido pelo diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva e pela diretora-geral da OMS, Margaret Chan (de Hong Kong), tendo saudado a "decisão de reunir nesta conferência representantes de Estados, instituições internacionais, organizações da sociedade civil, do mundo da agricultura e do setor privado".
O objetivo é "estudar juntos formas de intervenção para garantir a nutrição, assim como as mudanças necessárias que devem ser acrescentadas às estratégias atuais", disse.
Nesta conferência, os países vão assinar acordos para melhorar os sistemas de nutrição e a situação mundial da nutrição.
Em 1992, na primeira conferência, esteve presente João Paulo II e, hoje, Francisco citou o papa polaco, alertando para o "paradoxo da abundância" da sociedade atual.
"Existe comida para todos, mas nem todos podem comer, enquanto o desperdício, o consumo excessivo e o uso de alimentos para outros fins estão sob os nossos olhos. Infelizmente, este paradoxo continua sendo atual", disse o papa Francisco.
Fonte: DN Madeira
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