terça-feira, 21 de agosto de 2012

Está o Bloco bloqueado .



   
«Francisco Louçã, o mais antigo dirigente partidário português no activo (LCI, PSR e BE), por iniciativa própria ou por pressão interna, vai abandonar a liderança do seu partido, cargo que, entre os bloquistas, se designa eufemisticamente de “porta-voz”. Esta anunciada saída só pode ser entendida como o reconhecimento de que o antigo líder trotskista, depois de ter protagonizado o crescimento eleitoral do Bloco, passou a ser um estorvo para o seu partido, como o demonstrou a estrondosa derrota eleitoral nas últimas eleições legislativas, que reduziu os bloquistas a metade dos votos e dos deputados.
  
O Bloco de Esquerda é uma das duas inovações que arejaram o quadro partidário saído do 25 de Abril, ambas com o mesmo objectivo: disputar o “espaço” eleitoral do Partido Socialista. A primeira inovação – o Partido Renovador Democrático, confeccionado no Palácio de Belém por Ramalho Eanes – conseguiu obter 18% dos votos e 45 deputados nas eleições legislativas de 1985, quase igualando o PS. Contudo, este resultado foi o “canto do cisne” que antecedeu o “desastre” eanista: anos depois, após obter 0,65% dos votos, em 1991, o PRD foi comprado – literalmente – por um grupo de extrema-direita, o Movimento de Acção Nacional. Nesta altura, as tentativas de Francisco Louçã para afirmar eleitoralmente o “socialismo de esquerda” resultaram em grandes fracassos eleitorais. Em 1983, o seu partido de então – o PSR – coligou-se com a UDP e obteve 0,44% dos votos expressos. Foi preciso esperar 15 anos para que, em 1999, aparecesse o Bloco de Esquerda – a velha coligação do PSR e da UDP, a que se juntaram alguns dissidentes do PCP agrupados à volta de Miguel Portas. O novo partido elegeu, então, dois deputados. Em dez anos, de 1999 a 2009, o Bloco cresceu de 2,4% para 10%, ultrapassando os comunistas.
  
Francisco Louçã, sobretudo a partir dos resultados eleitorais de 2009, acreditou piamente na possibilidade de vir a ultrapassar eleitoralmente o PS a curto prazo (são várias as entrevistas em que esta convicção está à flor da pele), tal como veio a acontecer este ano nas eleições da Grécia, onde uma coligação da Esquerda Radical, o Syriza, “partido-irmão” dos bloquistas, foi o segundo partido mais votado, ultrapassando largamente os socialistas gregos. A impaciência de Francisco Louçã em alcançar os seus objectivos levou--o a delinear uma estratégia de “cerco e aniquilamento” do PS que se revelou desastrosa e conduziu o BE a duas derrotas eleitorais significativas, quebrando-lhe o movimento de ascensão. A primeira foi nas presidenciais de 2011. Fazer de Manuel Alegre o candidato do Bloco de Esquerda contra o PS, o que obrigou a um apoio tardio e envergonhado dos socialistas, só podia dar maus resultados. Francisco Louçã viu a sua estratégia esburacada com Manuel Alegre a perder mais de trezentos mil votos em relação às anteriores presidenciais. A segunda grande derrota, ainda mais pesada, da estratégia de Francisco Louçã foi ter associado o BE à direita para derrubar o governo socialista, o que só podia levar a coligação PSD/CDS-PP ao governo. O PS perdeu as eleições e o BE foi na água do banho.
  
A anunciada saída de Francisco Louçã da liderança do Bloco e a sua substituição por uma direcção bicéfala, constituída por um homem e uma mulher, corresponde à necessidade de equilíbrios internos, mais do que a “exigências do século XXI”. Nestes 13 anos, a imagem exterior do Bloco foi construída sobretudo por Francisco Louçã e Miguel Portas. A saída de cena do primeiro e o desaparecimento prematuro do segundo, por um lado, e a previsível disputa entre o PS e o PSD nas próximas legislativas, o que leva sempre ao “voto útil”, podem marcar definitivamente os limites eleitorais em que o Bloco se vai mover no futuro. Assim o PS saiba entender esta oportunidade.» [i]
   
Autor:
 
Tomás Vasques.

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