terça-feira, 23 de agosto de 2011

Fast-Fábula de um Jardim na Madeira (Pré-Crónica)



Era uma vez um jardim que tinha uma colónia de formigas muito rica, com todas as mordomias que os seus antepassados nunca puderam desfrutar. O segredo dessa prosperidade, dizia-se, era o facto de terem elegido como rainha uma cigarra cantadeira em vez da tradicional rainha-mãe.

Num jardim não muito distante dali, a colónia da rainha-mãe das térmitas vivia com grandes dificuldades. As térmitas passavam fome, mas devido ao seu bom coração, a rainha-mãe sempre emprestou víveres à cigarra que, nas frequentes visitas que lhe fazia, lhe dizia que no seu jardim as formigas mal conseguiam sobreviver.

Ao longo dos tempos verificou-se que a população de térmitas baixava drasticamente enquanto que a colónia das formigas multiplicava-se e prosperava. O motivo pelo qual isto acontecia era sinistro: A cigarra, desde que tinha sido eleita rainha pelas formigas ia frequentemente capturar térmitas, cortava-as em pedacinhos e dava-as às formigas para elas se alimentarem.

Até que, uma vez, e já em desespero, a grande rainha-mãe decidiu a muito custo fazer uma visita ao jardim das formigas para tentarem em conjunto encontrar uma solução para esta calamidade que os atormentava há demasiado tempo.

Quando chegou, e ao ver o quanto as formigas estavam gordas, e que se alimentavam da sua colónia, perguntou-lhes: «Vocês não sentem remorsos por comerem, além daquilo que sempre vos demos, as vossas irmãs térmitas? Como é que aceitam ter uma rainha assassina e mentirosa? Porque que é que continuam a eleger como rainha um insecto assim?»

A representante do povo das formigas respondeu então em nome de todas elas: «Senhora Rainha-mãe das térmitas, o que nós comemos não foi roubado por nós mas sim pela cigarra. E embora nós achemos que ela tenha alguns defeitos, uma coisa é certa: ela nos últimos anos tem feito tanto pelo nosso Jardim!»

Por:Ilídio Carreira

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