1. Paulo Portas é líder incontestado do CDS há 12 anos (descontando o curto e inócuo intervalo de Ribeiro e Castro). Disputou quatro eleições legislativas, três autárquicas e outras tantas eleições europeias. Nunca obteve resultados assinaláveis mas conseguiu chegar ao Governo em coligação com Durão Barroso, entre 2002 e 2005. Essa foi a sua maior vitória - que acabou por se transformar no ponto de referência-limite do seu Princípio de Peter. Quando estiveram no Governo, os centristas não deslumbraram pela sua competência nem legaram qualquer marca ideológica que ilustrasse a efusiva retórica do seu líder. Antes pelo contrário - alguns dos membros do CDS deixaram um lastro de dúvidas mais ou menos escandalosas sobre as decisões em que tiveram intervenção. O caso dos submarinos, que agora voltou a emergir, é apenas mais um de uma longa série de desaires éticos, excessivamente caudalosos para um partido tão diminuto.
2. O crescimento do CDS depende do estado do PSD: se os sociais-democratas estão bem, o CDS definha; se o PSD estaciona numa crise, o CDS subsiste. Não há qualquer debate político no CDS de Paulo Portas, que prefere ostentar uma ideologia variável, oscilando entre um conservadorismo roncante e a defesa das propostas mais proteccionistas do modelo socialista. Tem dias em que advoga a diminuição da despesa pública, para, noutros estados de alma, amparar o aumento ou a criação de mais subsídios…
Este CDS é um partido moldado à imagem dos méritos de Portas e, sobretudo, dos seus defeitos. Não tem estrutura, nele não persiste um mínimo de implantação autárquica - o CDS de Portas é um partido enclausurado em torno de um homem só. Desistiu de crescer por si, preferindo as tácticas de curto prazo que lhe permitam atingir vários nichos cruzados do mercado eleitoral e tentando seduzir os descontentes dos partidos do "centrão".
Paulo Portas agravou este imediatismo táctico do CDS tornando-o num vício. Cada acto eleitoral é uma dramática final pela sobrevivência do partido. Como todos os grupos que prescindiram de engrandecer, as campanhas do CDS assumem as colorações típicas de uma defesa de bunker, contra os inimigos reais e, sobretudo, os imaginários: as sondagens e a Comunicação Social.
3. Curiosamente, o período Portas teve uma coincidência temporal com alguns dos piores momentos do PSD, particularmente nos últimos cinco anos. Mas o CDS de Portas atolou-se com a leviandade política de Santana Lopes. Não aproveitou a irremediável falta de carisma de Marques Mendes. Não usufruiu da turbulência do ciclo de Luís Filipe Menezes. E, incrivelmente, nem sequer auferiu benefícios dignos desse nome durante a presidência de Ferreira Leite, sem dúvida o tempo politicamente mais descerebrado de toda a história do PSD.
Ou seja, o CDS de Portas enjeitou o período em que melhor se podia ter emancipado política e eleitoralmente. Dificilmente voltará a gozar de uma conjuntura tão favorável. Nunca mais, certamente, o PSD será açoitado por uma liderança tão fraca como a de Ferreira Leite. Nem o país conhecerá, em muitos anos, um primeiro-ministro tão desqualificado pessoal e politicamente como José Sócrates.
O significado da vitória de Passos Coelho, no PSD, contrasta com tudo aquilo em que Portas converteu o CDS. Prestes a ficar sem espaço vital, receoso de perder os restos políticos que lhe foram sobrando, Portas é um líder envelhecido, fatalmente vencido pelas suas próprias inseguranças, desprovido de ideias para o país e de soluções de crescimento para o seu partido.
4 . É nesta conjuntura de desesperança que, a partir da Alemanha, regressam as suspeitas acerca da compra dos submarinos. Portas dificilmente resistirá a um jogo de batalha naval em que o seu passado se converte no torpedo capaz de lhe desferir o golpe de misericórdia. Talvez por estar demasiado preso à sua própria estória para poder ambicionar ficar numa história maior do que ele próprio.
Fonte:http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Carlos%20Abreu%20Amorim
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