Se tivesse dúvidas em relação à candidatura de Manuel Alegre tê-las-ia desfeito com a sua intervenção no jantar realizado este fim de semana no Porto, quando decidiu investir contra os que tendo menos anos do que ele de militância no seu partido “ousam” criticar a sua candidatura. É inaceitável vir a ter um Presidente da República que avalie os cidadãos em função da barricada em que estavam nesta ou naquela ocasião, ainda por cima só usa este critério para desvalorizar os que não o apoiam, de que lado estavam os rapazes do PSR e da UDP? Tanto quanto me recordo muito dos seus apoiantes até criticavam o PCP por ser revisionista, porque não exibia Estaline como um grande ideólogo do marxismo-leninismo.
Esta arrogância muito pouco republicana de Manuel Alegre irrita-me, julga-se dono do votos que recebeu nas últimas presidenciais, está convencido de que o seu percurso político lhe dá direito a ter uma golden share na democracia portuguesa. Alguém que diga a Manuel Alegre que neste país há milhares de portugueses que lutaram contra a ditadura, que sofreram muito mais do que ele e que nada cobram aos portugueses, não se sentem com mais direito de que outros a cargos político. Quanto à sua militância no PS, a que aderiu depois do 25 de Abril, só lhe tenho a dizer que não sendo militante do seu partido admiro muitos que o fundaram ou a ele aderiram depois e que tudo dando pelo seu partido e pela democracia nunca se sentiram no direito de exigir o que quer que fosse em troca ou de se considerarem acima dos outros.
Não votarei num candidato que há poucos meses alinhava com todos os movimentos populistas, designadamente, no sector da saúde, chegando ao ridículo de alinhar e promover nacionalismos bacocos em relação à possibilidade das mulheres de Elvas irem fazer partos a Badajoz. Curiosamente quando conseguiram levar Correia de Campos, que foi um dos ministro mais competentes do governo anterior, fosse substituído por uma ministra “alegrista” nunca mais se ouviu uma voz, o que importa é que tudo fique na mesma, mesmo que para isso se mobilize a ignorância contra toda e qualquer reforma.
Não votarei num candidato que está fora do seu tempo, sem ideias e sem projectos, sempre disponível a surfar em vagas populistas e que nos últimos anos actuou mais em função da vaidade pessoal do que a pensar no país. As suas presenças ou ausências foram pautadas em função da projecção da sua imagem, apareceu quando lhe convinha, desapareceu quando lhe deu jeito.
O país carece de reformas, de uma revolução feita com gente deste tempo, gente que não sonha resolver os problemas do país com utopias e romantismos, gente que está disponível para compreender o mundo que nos rodeia em vez viver à espera que a desgraça colectiva dê razão de ser às suas utopias herdadas do século XIX.
Não votarei Cavaco Silva nem Manuel Alegre, são dois candidatos que insistem em que o país deve estar condicionado às suas ambições, um à direita e o outro à esquerda consideram que o povo e o país está em dívida com eles. São dois candidatos presidências que se esqueceram de se reformar e insistem em que o país seja gerido com base em princípios velhos, herdados das lutas de que foram grandes protagonistas, não perceberam que o mundo mudou, que as novas gerações não se reconhecem nos seus discursos.
O país carece de gente nova, de novos protagonismos, de novos ideais, de novos desafios. É preciso deixar que sejam as novas gerações a protagonizar a luta política, pondo fim a debates fora do tempo.
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