domingo, 6 de dezembro de 2009

Onde está a pobrezana Madeira Sr. Secretário Regional dos Assuntos Sociais ?

"O Natal vai ser aqui"
"Estou desempregado desde que o hotel do mar fechou. tenho 51 anos"


















É hora do lanche na Associação Protectora dos Pobres e, na Rua do Frigorífico, aparecem os que vivem das refeições gratuitas como António Pita, reformado da Câmara Municipal do Funchal. "É verdade. Almoço e janto aqui todos os dias e no Natal não vai ser diferente, vou passá-lo aqui". As lágrimas bailam nos olhos, mas depressa desaparecem. "Já estou acostumado". Tem 69 anos, recebe uma pensão de reforma de 500 euros e diz-se sozinho no Mundo. "Tenho uma filha que é como se não tivesse". O convívio, as pessoas com quem conversa estão ali na Associação Protectora dos Pobres. Afinal, passa ali os dias. As noites dorme num quarto alugado pelo qual paga 300 euros. O que fica não dá para grandes luxos e é por isso que come do que servem na Sopa do Cardoso. "Não tenho nada a dizer, nunca faltam. Estou bem vestido, bem calçado e bem alimentado"


. Sentado na soleira da porta de um prédio velho está um casal, muito encostado e com alguns sacos ao lado. Luís Rodrigues Vieira, como diz quando lhe perguntam o nome, foi despejado de uma casa do Canto do Muro e está à espera que o atendam, a ver se há um lugar para ele e para Maria Goreti, a companheira, no Centro de Acolhimento Nocturno.


Luís tem 47 anos, mas vive de uma pensão e Maria Goreti está desempregada. O Natal, como será? Encolhem os ombros e voltam a olhar para o Centro, a ver se alguém os chama. O dia de Festa vem longe e têm um problema mais importante, mais grave para resolver. Querem um quarto para dormir, para ficar a noite que se adivinha fria. Mais emocionado com a época está Mário Freitas. "Esta é sempre uma época complicada, sou sozinho e a minha família está toda na Venezuela". Tira um cigarro da carteira, puxa o fumo e só depois confirma. "Venho aqui todos os dias almoçar e jantar, o que recebo da Segurança Social não dá para mais. Tenho 51 anos e poucos estudos, assim não se arranja emprego"


. A vida não foi sempre assim. Há 12 anos, antes do Hotel do Mar fechar, tinha um emprego, uma vida mais ou menos arrumada. O hotel fechou, perdeu o trabalho e, uma dúzia de anos depois, continua sem emprego. Hoje vive num quarto e da ajuda da Segurança Social. A família está na Venezuela, longe. "Sabe qual foi o problema? Foi o meu pai ter morrido cedo senão tinha estudado".


Mário conta que estava no antigo 5º ano quando o pai morreu. Nesse dia o sonho de estudar morreu também. Com a mãe viúva e irmãos mais pequenos não teve outro remédio. Deixou a escola e começou a trabalhar. "Agora com 51 anos e o 5º ano quem é que me dá emprego?" Uma sombra tolda-lhe o olhar, a vida podia ter sido bem diferente, podia estar por sua conta sem precisar de 'Sopa do Cardoso'.




"Vou ficar com o meu filho"




Mais afastado está outro homem, tem queixas, mas não quer o nome, nem fotografias no DIÁRIO. "Não é por mim, é por causa do meu filho que anda na escola. Sabe como é? Fica triste, os colegas podem gozar". Aos 43 anos, depois de várias idas a Inglaterra, está sozinho, ocupou uma casa velha enquanto espera que lhe aprovem o Rendimento de Inserção Social. "Está quase e, quando tiver, vou ver se consigo ficar com o meu filho, a minha vida vai endireitar".


Quando isso acontecer, diz cheio de esperança, não vai precisar mais de submeter às regras da Associação Protectora dos Pobres. É que, como explica, está de castigo só porque pediu para reforçar mais uma concha de sopa e disseram que não podia. Exaltou-se e agora não entra, "dizem que estou de castigo". E sente isso como uma injustiça, nem todos os vão à Sopa do Cardoso são bêbedos e drogados.


Barba feita e roupa lavada, o ex-emigrante de Inglaterra continua a lamentar-se. Já dormiu no Centro de Acolhimento e os responsáveis não tinham o cuidado de separar os arruaceiros das pessoas normais. "Metem três e quatro pessoas num mesmo quarto, temos que aguentar o barulho, os insultos. Ao pequeno almoço dão uma chávena de café e um papo-seco. Vou deixar de vir aqui, vou para a Porta Amiga".


Os pobres, que não pode, que vai à 'Sopa do Cardoso' é por necessidade, mas o lugar, insiste tem má fama. "As pessoas confundem tudo, pensam que são todos a mesma coisa". E, de facto, há histórias que correm entre quem frequenta a Associação, histórias que dizem que os patrões recusam dar emprego a quem dá o endereço da Rua do Frigorífico.


À porta do refeitório, forma-se uma fila, é hora do lanche. A Associação Protectora dos Pobres, a 'Sopa do Cardoso', é a referência para os mais pobres. Serve refeições, fornece roupa, serviço de banho e tem um centro de acolhimento nocturno, mas também ajuda na formação, a encontrar emprego e a mobilar as casas das pessoas que recuperam e são reintegradas.
Marta Caires




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