
De regra aceitamos que o discurso de Péricles, pronunciado à beira do túmulo de um soldado da Guerra do Peloponeso, é a matriz do conceito da democracia ocidental. Todavia, Tucidedes, ao assegurar a memória do discurso do rival, afirma que de facto o governo de Atenas era o governo de um homem só. Ficou para sempre o conflito entre o princípio do governo de todos e a defesa da sede do poder. Esta defesa inspirou as exclusões, que na Declaração de Filadélfia se traduziram em excluir do direito à felicidade (Jefferson), os nativos, os escravos, os trabalhadores, as mulheres. A modelação do conceito de todos e da maioria levou à distinção entre: democracia – governo do povo, pelo povo, e para o povo (Lincoln); democracia popular – governo em favor da maioria de interessados pelo centralismo (soviético); democracia autoritária – governo dos interesses maiores, que unem as gerações passadas, presentes, e futuras. Foi o primeiro conceito que obteve supremacia na Carta da ONU e na sua Declaração de Direitos Humanos; a diversidade de regimes dos Estados membros levou à tolerância com os desvios e contradições, inspirados pela defesa da sede do poder (China). Esta defesa da sede do poder, na área directamente inspirada pelo discurso de Péricles, desviou para uma progressiva contra-democracia em curso, com quebra do valor da confiança na relação entre povo e aparelhos de governo. O respeito efectivo pelos Direitos Humanos tende para ser o padrão de referência e avaliação da distância entre a democracia e a realidade, inspirando acções correctoras da indiferença.
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