terça-feira, 29 de novembro de 2016

Um monstro chamado Fidel Castro. por Sebastião Bugalho

Vamos parar com a fantochada ou não? Fidel Castro não era um "comandante", um "líder", um "ícone" ou um "histórico". Era um ditador. Um tirano que prendia quem discordava dele e que se manteve no poder durante cinco décadas sem eleições.
O governo português do Partido Socialista diz que "devemos lamentar a morte" e que é "a História" que o julgará. O nosso ministro dos Negócios Estrangeiros diz que há "méritos e deméritos" em Fidel Castro. Aqui entre nós, adorava que ​o PS também conseguisse escapar ao maniqueísmo quando fala de política interna. Podia ser que Pedro Passos Coelho ​deixasse de​ ser​ um "neo-liberal austeritário" que destrói bancos.
Mas o espetáculo de hipocrisias proporcionado pela morte de Fidel Castro não ficou por aí. O Bloco de Esquerda considerou-o um "grande estadista". É inacreditável que​ a esquerda portuguesa, que gosta tanto de se promover como amiga da comunidade LGBT, venha ​louvar um senhor que enviou homossexuais para campos de reeducação forçada durante vinte anos. Foi isso mesmo que leu, caro leitor. Campos de reeducação forçada. Mas cá no burgo, somos todos arco-íris.  
O Partido Comunista Português lembrou Fidel pela sua "vida inteiramente consagrada aos ideais da liberdade, da paz e do socialismo". Bem, não se pode dizer "inteiramente", tendo em conta o íate, a ilha privada, os Rolex e a lagosta diária ao almoço. Gostava muito de ouvir Jerónimo Sousa tecer tamanhos elogios ao político português que ostentasse este estilo de vida. Talvez se Ricardo Salgado crescer uma barba consiga ​mais simpatias, ​não sei.
​Pior que a hipocrisia, é o à vontade com que se normalizam as homenagens ao que é anti-democrático. Em Inglaterra, o líder trabalhista Jeremy Corbyn elogiou Fidel por ter permanecido líder durante os mandatos de vários presidentes americanos. Ninguém deve ter explicado ao sr. Corbyn que na América os presidentes mudam devido ao facto de irem a votos.
Sobre os alegados feitos de um sistema de educação e saúde gratuitos, é interessante ver que do ano da revolução cubana até 1999 o PIB per capita mal cresceu e os níveis de bem-estar permaneceram ao nível do leste soviético. As taxa de literacia aumentou, é certo, ao contrário da possibilidade de escolher o que ler.
O que me intriga realmente é que a esquerda democrática – do menino bonito Trudeau, no Canadá, ao senhor pragmático Costa, em Portugal – insista em ignorar as atrocidades de Fidel, estando ao mesmo tempo tão incomodada com a eleição democrática de Donald Trump. Com que moral criticam o populismo de Trump se são incapazes de reconhecer um tirano como Castro?
A ironia suprema é o cubano ter falecido no nosso 25 de Novembro. O dia que este governo se recusa reconhecer como salvaguarda das liberdades e das instituições que permitem, entre outras coisas, que ele governe como governa. 
O PS de Mário Soares não esquecia o 25 de Novembro e certamente não se vestia de preto por um ditador comunista. O​ PS contemporâneo​, por outro lado, fez precisamente isso.
Hoje, não estou de luto por Fidel Castro. Estou de luto pela liberdade que os nossos representantes insistem em esquecer. 
Em Miami, centenas de famílias que fugiram do regime cubano saíram à rua para gritar Liberdade. Um correspondente escreve que "choram de alegria". Leio muita gente que devia fazer aqueles 145 quilómetros num bote. A ver se percebiam a diferença.​
 Fonte I

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