sexta-feira, 10 de abril de 2015

SÃO ROSAS SENHOR. Por Luis Vilhena


A Madeira vive hoje uma fase de mudança. Mudança de ciclo, de paradigma de desenvolvimento (espera-se) e de mudança de atores políticos (alguns).
Após 40 anos de governo da autonomia da Madeira e da instauração da democracia em Portugal, as últimas eleições para o parlamento regional, conferiram o mandato ainda ao mesmo PSD que montou o paradigma de desenvolvimento da Região através, do governo de Alberto João Jardim, dos deputados da maioria PSD que viabilizaram as suas políticas, das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, das Associações Públicas, das Privadas e de tudo aquilo que mexia e os tentáculos do poder conseguiram deitar a mão.

Ao contrário do PSD, que se apresentou com cara novas e uma postura diferente, as restantes forças políticas da região não souberam renovar-se nem souberam colocar à frente das suas ambições próprias, uma estratégia comum de alternativa ao poder instalado há quase 40 anos. (O epifenómeno do JPP não conta para aqui).
Apesar do cansaço dos cidadão por este regime podre e malquisto, apesar de um desejo visível de mudança, uma boa parte dos eleitores sentiu-se perdida perante as opções que se colocavam, não tendo surgido nenhuma que oferecesse uma alternativa credível ao poder instituído. Por isso, a solução de continuidade foi a que mereceu a confiança da maioria dos eleitores, por abstenção de uma larga maioria, pela dispersão de votos em projetos políticos de circunstância ou de protesto e porque os que podiam constituir alternativa, adormeceram ao volante ou julgavam que iam à boleia em vez de se agarrarem ao volante para mudar de direção.

O próximo governo será então liderado por Miguel Albuquerque, o mesmo que liderou a Câmara do Funchal durante 20 anos.

Infelizmente deu para perceber pela ‘grande entrevista’ que passou ontem na RTP1, que Albuquerque não mudou nada desde que esteve na Câmara. Numa primeira parte tentou descolar-se do regime do ‘antigo’ PSD, mas ao mesmo tempo com muita cerimónia e cautela, ou não tivesse sido ele um produto desse regime no qual foi vivendo acolitado, ao colo de Alberto João Jardim até ganhar a simpatia dos funchalenses, dando de vez em quando um ar de ‘enfant terrible’ mas sem nunca ter pisado verdadeiramente o risco.
Numa segunda parte, proferiu, atabalhoadamente, algumas ‘coisas’ sobre a política que pretende implementar no seu mandato. As cábulas que levava não lhe serviram de grande coisa para colmatar as suas fragilidades na diversas matérias, sobretudo no campo da economia e, por isso, percebeu-se claramente que, para além de não ter tido tempo (?) para elaborar um Programa de Governo sobre o qual estivesse à vontade para uma entrevista levezinha como foi aquela, não se vislumbraram réstias de um pensamento e reflexão próprios sobre os diversos assuntos. Uma pena para quem vai assumir um lugar tão importante para a Madeira no próximo dia 20.
A terceira parte e aquela em que se sentiu mais à vontade, foi no assunto das rosas.

Para mim, Miguel Albuquerque continua a ser o mesmo que não tomou conta da Cidade como ela merecia e como já o escrevi várias vezes. Bem podem contrapor-me que é uma cidade limpa e florida e sei lá mais o quê. Mas faltou uma Ideia de Cidade, estratégias claras e objectivas e sobretudo uma prática, uma política e um desenvolvimento minimamente planeado, que tivessem evitado as zonas altas da Cidade abandonadas à sua sorte, as zonas de expansão caracterizadas por falta de pensamento urbanístico e com resultados caóticos, um centro histórico massacrado por intervenções abrutalhadas delapidando importantes elementos que constituem o carácter do Funchal, e um desprezo pela paisagem em geral e pelas qualidades singulares que a construíram ao longo de séculos.

Não quero dizer com isto que não deseje boa sorte e sucesso ao novo Governo, tanto mais que lá estarão algumas pessoas que merecem respeito pelo seu percurso profissional e reflexão própria que têm expresso.

O sucesso do Governo seria desejável e que isso se refletisse no Bem comum.

Mas a minha dúvida reside no fato de desconfiar que, uma equipa sustentada pelos mesmos que suportaram o regime de Alberto João Jardim, com‘ligações perigosas’ a interesses instituídos e montados numa máquina habituada a práticas pouco recomendáveis, terá a capacidade para construir um novo paradigma de desenvolvimento que a Madeira necessita.

Não havendo nada a que me opor, pois não existe nenhum Programa ou documento sobre o qual se possa ter alguma opinião, é-me ao mesmo tempo impossível de sentir qualquer afinidade pelo próximo governo, constituído por pessoas que ao longo do anos foram apoiando o regime de Jardim, de uma forma mais visível ou camuflada, que raramente o puseram em causa e que foram aparecendo sempre na fotografia, sorridentes, mesmo quando Jardim tinha comportamentos que hoje criticam.

Da futura oposição espera-se também renovação e mudanças, de caras, de posturas e de politicas. Deve-se exigir responsabilidade nas críticas e dinamismo em propostas alternativas, quando forem necessárias, ou contributos que possam enriquecer estratégias que estejam no caminho certo. Um bom contraponto é, em democracia, um fator crucial para um bom governo.

Porque tenho esperança no futuro da Madeira, estarei agora ainda mais atento ao que aí vem, sobretudo no que diz respeito ao Ordenamento do Território, ao Património Arquitectónico e à Paisagem.

Fonte: Facebook

Sem comentários: