sexta-feira, 25 de julho de 2014

Querido Miguel. Por Rubina Sequeira




Estou há três meses sem usufruir deste espaço reservado à minha muito humilde opinião porque, simplesmente, não encontrei palavras que preenchessem o vácuo moral em que a política regional mergulhou. Não pretendo ser o farol ético da classe governadora, mas tornou-se deveras complicado escrever sobre ela sem usar calão ao nível correspondente.
Contudo, não me posso calar perante a entrevista feita ao Dr. Miguel Mendonça, publicada neste diário no dia 19 do corrente mês. Só não sei por onde começar…
A vassalagem que o Presidente da Assembleia Legislativa Regional presta ao Presidente do Governo Regional é… uma vergonha pública. E toda a tentativa de branqueamento da (in)actividade da Assembleia Regional fica-lhe tão bem como a coroa (in)visível que usa.
Sem qualquer pudor ou embaraço, insulta a esmagadora maioria dos madeirenses considerando que a ALRAM “trabalha demais”. E, para fazer frente ao excesso, propõe a redução do tempo de intervenção por deputado e a diminuição do número destes para 25.
Ora, eu compreendo que S. Alteza Real se aborreça com os afazeres legislativos, mas deve-se-lhe ter varrido da memória que os diplomas de que fala são pretensas LEIS e, como tal, necessitam da mais cuidada e aprofundada discussão. Sucede que, graças às consecutivas alterações estatutárias, actualmente cada deputado dispõe apenas de dois minutos para apresentar ou discutir uma proposta de LEI. E, pode até ser que Sua Ex.cia, apesar da aparente demência, consiga fazê-lo em 30 segundos, mas eu, com dois minutos, já me via aflita… É que os partidos com apenas um deputado não podem cumular tempos e ficam limitados a intervenções relâmpago, pelo que não posso aceitar isto senão como uma tentativa (pouco dissimulada) de calar a oposição. E essa intenção revela-se de forma absolutamente pornográfica na proposta de redução do número de deputados para metade, pois tal medida assassinaria os pequenos partidos sem diminuição relevante nas despesas da Assembleia. Cumpre aqui lembrar que no que toca à redução de gastos – VERDADEIRA QUESTÃO DE FUNDO – Sua Ex.cia considerou o financiamento partidário, o subsídio de reintegração e as subvenções vitalícias como “custos da democracia” e “direitos adquiridos dos deputados”.
No final, remata toda esta hipocrisia com uma real engraxada ao Dr. Alberto João, elegendo-o “o seu candidato” à liderança do partido, por acreditar que “aos 71 anos ainda se está em idade para fazer quatro anos de mandado”.  
… A sério?!
… Independentemente de tudo o resto?!
Querido Miguel, um veterinário ensinou-me que os animais, quando castrados, podem viver até mais 10 anos. Fica a sugestão.
Fonte: DN Madeira

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