quinta-feira, 28 de março de 2013

Entrevista de Sócrates. Minuto a minuto



22h39: Fim da entrevista.

22h38: Quem é que deve ter medo dos seus comentários na RTP? "Ninguém tem de ter medo, só quem tem medo da democracia é que deve ter medo dos meus comentários", responde José Sócrates.

22h33: "Estou num curso de Ciência Política, em Paris, num mestrado. Quero defender-me de algumas acusações sobre a minha vida pessoal. Este era o momento para cumprir o sonho de há muito tempo de ter um ano sabático, viver no estrangeiro e estudar. Passar mais tempo com os meus filhos e recuperar o tempo perdido. O "Correio da Manhã" fez uma campanha ignóbil contra mim, disse que eu tinha uma vida de luxo em Paris e insinuou que eu tinha algum comportamento que se devia duvidar. Tenho uma única conta bancária. Nunca tive acções, nem dinheiro em offshores", afirma José Sócrates.

22h32: Discurso do Governo de Passos Coelho faz lembrar a José Sócrates a "Divina Comédia" quando se entra no inferno e uma voz diz: "vós que entrais abandonai toda a esperança".

22h32: O Governo deve vender ilusões ao país? Sócrates responde que "isso era a crítica que me faziam, quando eu falava de confiança, das energia renováveis. Um político que desiste do futuro não está à altura das suas responsabilidades".

22h30: Governo tem que "acabar com os erros, não continuar com a austeridade, alterar o discurso. O discurso político vale muito". 

22h29: Governo vai cumprir mandato até ao fim? "Governo tem um problema de comando político, não vejo condições para que desenvolva aquilo que é preciso fazer".

22h28: José Sócrates defende a nacionalização do BPN, devido ao risco sistémico para o sistema financeiro português.

22h27: "Nunca devia ter formado um Governo minoritário. Enfrentei uma crise rigorosíssima com um governo minoritário, com a oposição a querer aumentar a despesa. Se eu soubesse que ia haver uma crise das dívidas soberanas nunca tinha aceite formar um Governo minoritário, com uma oposição radicalizada e um Presidente que não foi imparcial".

22h26: "Reconheço que em 2009 fizemos um esforço para aguentar a economia, muita gente manteve o seu emprego" devido aos programas do Estado, afirma.

22h21: Sobre as parcerias público-privadas (PPP), José Sócrates diz que "vai aí uma história muito mal contada" e contesta os números apresentados pelo Governo. "Existem 22 PPP rodoviárias, eu lancei 8. Em 2005 recebi do anterior Governo encargos líquidos futuros com PPP de 23 mil milhões de euros, em 2012 eram 19 mil milhões. São menores do que aqueles que eu recebi", argumenta o ex-primeiro ministro. "Com a renegociação das SCUT os encargos baixaram de 10 mil milhões em 2005 para 5 mil milhões em 2012".

22h20: Reconhece que a sua política foi despesista? "Não reconheço isso", responde José Sócrates. "Não quero contestar que a nossa economia tinha e tem problemas estruturais, problemas de relacionamento com o exterior que tem de corrigir".

22h17: O impacto da crise nas dívidas e nos défices foi semelhante em Portugal e noutros países europeus, o ponto de partida é que era diferente, defende José Sócrates. Diz que chegou ao Governo com um défice acima de 6% e que conseguiu baixar o défice para metade e fez crescer a economia. Entre 2005 e 2008 fizemos uma governação que garantiu o crescimento da economia, baixou o défice e fez mudanças estruturais, diz Sócrates.

22h16: Portugal respondeu à crise de 2009 procurando conter o aumento do desemprego e promovendo a procura interna, como aconteceu em toda a Europa, argumenta.

22h15: "Ninguém adivinhou esta crise", refere José Sócrates. 

22h14: José Sócrates nega ter aumentado os funcionários públicos devido a interesses eleitorais. "Nenhum partido se opôs a isso. Manuela Ferreira Leite achou bem esse aumento". "É muito fácil falar depois da crise", afirma.

22h12: Em 2009 decidiu aumentar os funcionários públicos em 2,9%, num ano de grande crise. Foi um dos seus maiores erros? "É muito fácil dizer isso agora, mas em 2009 tinhamos uma doutrina na Europa de que era preciso fazer face à crise, apoiar as famílias, apoiar o poder de compra", responde. Os funcionários públicos não eram aumentados há vários anos e em 2009 aumentaram os preços do petróleo e dos bens alimentares. 

22h06: José Sócrates rejeita ter sido um primeiro-ministro despesista. Refere que entre 2005 e 2008 a dívida pública subiu cerca de 5 pontos, em 2008 antes da crise a nossa dívida estava muito próxima da média europeia, entre 2008 e 2010 altura "excepcional" em que as dívidas de todos os países europeus subiram, a dívida pública subiu 20 pontos. "Desde 2010 subiu 30 pontos percentuais, em ciscunstâncias muito diferentes".

22h05: Política de austeridade levou à "maior dívida pública de sempre", estamos nos 123% do PIB, afirma José Sócrates.

22h03: Estratégia para sair da crise? Sócrates rejeita saída do euro e renegociação da dívida. "País tem de parar com a austeridade. Vejo aqui e na Europa o erro de não parar com a austeridade", é preciso apostar no crescimento da economia. "O Governo meteu-se num buraco e acha que a solução é continuar a escavar. Parem de escavar, parem com a austeridade, paremos com esta loucura, neste dois anos já se demonstrou que essa solução não resulta". "Se continuarmos a escavar não cumpriremos na dívida nem no défice", frisa.

22h01: "Tenho ouvido que foi a troika que provocou essas alterações no memorando, mas eu não acompanho essa ideia. Juntar mais austeridade ao memorando foi uma decisão do Governo de Passos Coelho", afirma José Sócrates.

22h00: "No memorando inicial não estavam o corte do 13º mês, do subsídio de férias, nem o aumento do IVA da restauração, nem o aumento do IVA na electricidade, nem o aumento brutal de impostos", acusa Sócrates. Mal entrou o Governo de Passos Coelho começou logo a alterar o memorando, afirma.

21h59: Programa estava mal desenhado como diz o ministro das Finanças Vítor Gaspar? "Dá-me vontade de rir ao ouvir isso", responde Sócrates, que alude às sete alterações ao programa original.

21h57: José Sócrates fala num "embuste na narrativa contada ao país, de que a culpa era do seu Governo, não havia crise internacional e o actual Governo de Passos Coelho está apenas a aplicar o memorando negociado pelo anterior Governo. Este Governo está a aplicar o dobro da austeridade do programa inicial. O Governo já fez sete alterações ao programa de ajustamento.

21h56: A experiência dos últimos dois anos mostrou que não bastava mudar de primeiro-ministro, afirma.

21h55: PSD tinha pressa em chegar ao poder. O que é que o país ganhou com a crise política?, questiona José Sócrates.

21h54: Sócrates nega ter pedido ajuda externa por causa de uma entrevista do então ministro das Finanças Teixeira dos Santos, a defender essa posição. "Eu não gostei que o ministro tivesse feito aquela declaração, mas eu já tinha tomado a decisão de pedir a ajuda externa porque reconheci que a minha luta tinha chegado ao fim, que já não conseguia".

21h52: Sócrates diz que não queria a ajuda externa "porque sabia as consequências que isso traria" para os portugueses. "Fiz tudo por isso", para evitar o resgate de Portugal e a solução era o PEC 4, sublinha o ex-primeiro ministro.

21h50: Achava que era o único que tinha razão na altura, ao não querer pedir ajuda à troika? "Olho para trás e lamentavelmente muitas instituições portuguesas baixaram os braços enquanto eu lutava para evitar a ajuda externa. Admito que estava enganado, mas olhemos para aqueles que provocaram a crise política", argumenta José Sócrates. "A oposição disse que não havia problema nenhum em governar com o FMI".

21h49: Fez as pazes com o antigo ministro das Finanças Teixeira dos Santos? "Vivemos tempos muito duros, fizemos tudo para evitar a ajuda externa", mas o PSD criou uma crise política ao rejeitar o PEC 4, responde Sócrates.

21h48: Porque é que não fez o pedido de ajuda internacional mais cedo? "Sempre me opus ao pedido de ajuda internacional, fui obrigado a fazê-lo".

21h46: José Sócrates questiona porque é que o Presidente da República agora "não faz nada" perante o actual estado do país. "Presidente foi o patrono desta política", atira José Sócrates. 

21h45: "O senhor Presidente da República assumiu-se como um opositor do Governo". Cavaco Silva não fez nada para evitar a queda do Governo PS, acusa José Sócrates. 

21h36: "O senhor Presidente da República fez-me uma acusação de falta de lealdade institucional. Acho extraordinário esse comportamento do Presidente. Faz-me um ataque pessoal escrito um ano depois de eu ter saído do Governo. Isso diz muito da atitude do Presidente. Não reconheço no Presidente da República nenhuma autoridade moral para dar lições de lealdade institucional. Recordo dois episódios, em 2009 nasceu na casa civil do Presidente uma conspiração organizada e inventada contra o Governo, alegando que o Governo estava a espiar o Presidente. O Presidente na altura chamou os responsáveis pela segurança no país para fazer perguntas sobre as comunicações, dando uma espécie de confirmação da notícia de que as comunicações estavam ameaçadas. Por outro lado, nunca tomou nenhuma atitude com o assessor de imprensa que planeou, concebeu e executou esse plano, aliás, foi promovido. Segundo momento, na tomada de posse do segundo mandato o Presidente da República disse que todos os problemas do país são responsabilidade do Governo e esqueceu a crise internacional. O problema do Presidente é que sempre usou dois pesos e duas medidas ao tratar com o meu Governo e com o actual Governo. No meu tempo sempre pagámos o 13º e 14º meses aos pensionistas e funcionários públicos", mas agora foram cortados, afirma José Sócrates.

21h35:  "O chumbo do PEC 4 conduziu Portugal ao pedido de ajuda externa. Abriu uma crise política. Eu tinha uma solução que foi aprovada em Bruxelas e rejeitada em Portugal", defende José Sócrates.

21h32: José Sócrates diz que procurou envolver o PSD nas negociações do PEC 4. "O PSD não quis aprovar o PEC 4", acusa. "Durante duas longas semanas apelei aos líderes políticos para dialogaram com o Governo, isso era uma solução para a crise, como aconteceu agora com Espanha e Itália", argumenta o ex-primeiro ministro.

21h28: "Assumo as responsabilidades de uma governação que pretendeu enfrentar a crise". "Dizer que a minha governação levou ao plano de resgate é uma mistificação e um embuste". O que levou Portugal a pedir ajuda externa foi o chumbo do PEC 4 e a crise política que levou à demissão do Governo, argumenta.

21h27: José Sócrates recusa a ideia de que os Estado provocaram a crise por causa do seu endividamento e aponta o dedo à "ganância dos mercados financeiros".

21h26: Crise foi mal gerida? "Não concordo com essa ideia. A nossa gestão da crise teve as suas consequências e nós fizemos face a ela com energia". José Sócrates diz que seguiu "estratégia de rigor orçamental".

21h25: José Sócrates enumera vários investimentos em Portugal trazidos pelos seus governos.

21h23: Admite pedir desculpas aos portugueses pelo resgate da troika? "Não", responde José Sócrates, que alude à existência de uma crise internacional em 2011 que levou ao plano de ajuda. Quem negou que em 2011 havia uma crise internacional e disse que a culpa era do Governo participou num "embuste".

21h21: Qual a sua parcela de responsabilidade na crise? "A questão da responsabilidade é inerente a quem tem responsabilidades políticas. Nem sempre à luz do que se sabe hoje as coisas correram bem, noutros casos correram bem, os governos não fazem tudo bem. Assumo as responsabilidades que tenho, não aquelas que os meus adversários me querem atribuir".

21h20: "A direita acha que eu não tenho direito à palavra, alguns políticos de direita até insunuaram que não foi a RTP que me convidou", diz Sócrates.

21h18: Sobre as críticas de Nuno Morais Sarmaneto que disse, na Renascença, que o ex-primeiro ministro é um homem sem medo e sem vergonha, José Sócrates diz que "a direita nunca foi capaz de combater de forma nobre e elevada, sempre fez da disputa política uma dimensão pessoal. Essas palavras não contribuem para a elevação do debate político. Acha que o nosso país ganha alguma coisa quando o debate político entra numa linguagem básica de ataque pessoal e o insulto.

21h16: A direcção do PS defendeu-o? José Sócrates afirma que quando um líder é eleito é normal que olhe para o futuro e atitude do PS não foi diferente. "Compreendo essa atitude do PS, muito bem, mas deixou que a narrativa dos meus opositores ficasse sozinha em campo".

21h15: José Sócrates contraria a "narrativa" de que foi o homem que entregou o país à troika. "Essa é uma narrativa que tem uma ideologia por trás, com um interesse partidário", sublinha.

21h13: "Fico perplexo quando vejo o comportamento de políticos que há uns anos estavam contra a asfixia democrática, acham normal que quatro ex-líderes do PSD tenham programas na televisão, mas assim que um ex-líder do PS é convidado para fazer comentário político, dizem logo que não pode. Não aceito essa cultura democrática", afirma Sócrates. Ex-primeiro ministro afirma que tem direito a responder e defender-se das críticas de que tem sido alvo.

21h09: "Nem uma coisa nem outra. Não tenho nenhum plano para regressar à vida política activa", responde José Sócrates quando questionado se pretende voltar a ser primeiro-ministro ou candidato a Presidente da República. "Não tenho esse plano nem esse desejo", assegura.

21h08: Porque regressou ao comentário político? "Ao um tempo para tudo na vida, para o silêncio e para falar. Este é o tempo de tomar a palavra, porque já lá vão dois anos desde a crise política de 2011 e temos agora dados para a analisar. Entendi que era o momento de falar porque não aceito as acusações que os meus adversários têm feito contra mim e é o meu dever dar o meu ponto de vista, as minhas razões".

21h07: Início da entrevista.

José Sócrates está de “regresso”. Esta quarta-feira à noite deu à RTP a sua primeira grande entrevista desde que abandonou o cargo de primeiro-ministro.

José Sócrates, que tem vivido em Paris onde estuda Filosofia, foi primeiro-ministro dos governos PS entre 2005 e 2011, ano em que perdeu as legislativas antecipadas para o social-democrata Pedro Passos Coelho, na ressacada do pedido de resgate à "troika". 

Agora está de volta para uma série de comentários políticos semanais que irá fazer na televisão pública.

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