Comunista come
criancinha. Culpa é de quem?
O filme Evilenko,
dirigido por David Grieco, trata da história do Monstro de Rostov, em que
Andrei Romanovic Evilenko ficou famoso por violentar, assassinar e devorar 55
crianças e adolescentes em várias cidades da Rússia, durante um período de 5
anos. Segundo o filme insinua, tal procedimento psicótico foi resultado da
Perestroika iniciada por Gorbachev, em que o comunista ficou perdido
ideologicamente, sem saber como sobreviver aos novos tempos. O resultado foi o
comunista comer criancinha, uma atrás da outra.
Mas não é sobre este
fato bizarro que aqui pretendo me deter. Apenas vou fazer uma transcrição de um
trecho deArquipélago Gulag, de Alexandre Soljenítsin, no qual ele fala
sobre a fome que assolou na Rússia, quando pais comiam seus próprios filhos. Ou
seja, não é de todo fantasiosa a frase "comunista come criancinha",
que o próprio Kruschev uma vez quis desmoralizar um presidente americano,
repetindo em público o famoso chavão.
Vejamos como comunista comia
criancinha na antiga Rússia revolucionária e a culpa, obviamente, não era dos
"comissários do povo", porém da Igreja Ortodoxa:
"No fim da guerra civil, e
como sua conseqüência natural, abateu-se sobre a região do Volga um ano de fome
como nunca se tinha conhecido. Como isso não adorna muito a coroa de glória dos
vencedores desta guerra, falam sobre ele entre os dentes e sem ir além de duas
linhas. E no entanto essa fome chegou até ao canibalismo, até aos pais comerem
os seus próprios filhos. Nunca uma fome assim tinha sido conhecida na Rússia,
nem sequer no 'Tempo dos Tumultos' (*) (então, como testemunham os
historiadores, os cereais mantinham-se debaixo da neve durante vários anos, sem
serem colhidos). Um só filme sobre essa fome poderia projetar uma luz nova
sobre tudo o que vimos e tudo o que sabemos acerca da Revolução e da guerra
civil. Mas não há nem filmes, nem romances, nem estudos estatísticos - é algo
que se procura esquecer, que não embeleza. Além disso, a causa de qualquer
fome, é costume fazê-la recair sobre os kulaks. Mas quando a fome era geral,
onde estavam os kulaks? V. G. Korolenko, nas suas Cartas a Lunatchárski (**),
que contrariamente à promessa deste último nunca se publicaram entre nós,
explica-nos as razões da fome e da ruína completa do país: elas residem na
queda de toda a produtividade (as mãos trabalhadoras encontram-se ocupadas com
as armas) e na perda da confiança, da esperança do camponês de poder ficar com
uma parte da sua colheita para si, por menor que fosse. Mas algum dia alguém
falará daqueles fornecimentos de intermináveis vagões de víveres enviados
durante meses, em aplicação ao tratado de paz de Brest-Litóvski, pela Rússia,
privada de vozes de protesto, mesmo das regiões que a fome ia devastar, para a
Alemanha do Kaiser, que travava no ocidente os últimos combates.
Da causa ao efeito a cadeia era
curta: se os habitantes do Volga comiam os seus filhos era porque nós não
tínhamos outra preocupação que não fosse a de dissolver a Assembléia
Constituinte.
Mas a genialidade dessa política
consistia em obter êxitos a partir da própria desgraça popular. E, num golpe de
inspiração, de uma só cajadada matam-se dois coelhos: que sejam agora os padres
a alimentarem a região do Volga! Não são eles cristãos e bondosos?
1) Se recusam, culpamo-los de
toda essa fome e esmagamos a Igreja;
2) se concordam, limpamos os
templos;
3) e, num caso ou noutro,
aumentamos a reserva de divisas.
Provavelmente esta idéia foi
suscitada por atos da própria Igreja. Como indica o Patriarca Tíkhon, logo em
agosto de 1921, quando começou a grassar essa fome, a Igreja criou comitês
diocesanos e pan-russos de ajuda aos famintos, começando a angariar dinheiro.
Mas permitir uma ajuda direta da Igreja às bocas esfomeadas seria minar a
ditadura do proletariado. Os Comitês foram proibidos e o dinheiro confiscado a
favor do Tesouro Público. O patriarca fez apelo à ajuda do papa em Roma e do
deão de Canterbury, mas ainda aí lhe cortaram a iniciativa, esclarecendo-o de
que só o poder soviético estava autorizado a entabular conversações com
estrangeiros, e de que não era necessário semear alarma: segundo o que
escreviam os jornais, as autoridades tinham todos os meios para acabar com a
fome.
Entretanto, na região do Volga
comiam-se ervas e solas de sapato, chegando a roer-se as ombreiras das portas.
E finalmente, em dezembro de 1921, o Comitê do Estado de Ajuda às Vítimas da
Fome propôs à Igreja que oferecesse os seus bens aos famintos - não todos, de
resto, mas apenas aqueles que não eram canonicamente imprescindíveis para os
serviços religiosos. O patriarca manifestou o seu acordo e o Comitê do Estado
de Ajuda às Vítimas da Fome elaborou as instruções: todas as ofertas deviam ser
voluntárias! Em 19 de fevereiro de 1922 o patriarca lançou uma mensagem
autorizando todos os conselhos paroquiais a oferecer objetos que não fossem indispensáveis
aos ofícios religiosos.
E assim tudo corria de novo o
risco de dissolver-se no compromisso e enredar a vontade proletária, como tinha
noutros tempos sido tentado com a Assembléia Constituinte e como era costume em
todos os parlatórios da Europa.
Uma idéia eclodiu num relâmpago!
Uma idéia, isto é: um decreto! Um decreto do Comitê Executivo Central de Toda a
Rússia, datado de 26 de fevereiro: confiscar todos os valores dos templos para
os famintos.
O patriarca escreveu a Kalínin,
mas este não respondeu. Então, em 28 de fevereiro, o patriarca publicou uma
nova e fatídica mensagem: do ponto de vista da Igreja, semelhante ato constitui
um sacrilégio, e nós não podemos aprovar o confisco.
A meio século de distância, é
fácil hoje censurar o patriarca. Naturalmente, os dirigentes da Igreja cristã
não deviam ter-se agarrado a objeções do gênero de saber se o poder soviético
não tinha outros recursos, ou quem é que tinha levado a região do Volga à fome;
não deviam ter-se agarrado a essas riquezas, pois não era em absoluto delas que
havia de surgir (se havia) a nova firmeza na fé. Mas é preciso ter em mente a
situação desse desgraçado patriarca, eleito já depois de outubro, que dirigia a
Igreja há poucos anos, uma Igreja que só tinha conhecido a repressão, as
perseguições, os fuzilamentos, e que lhe tinha sido confiada com a missão de a
salvaguardar.
Então os jornais lançaram uma
campanha contra o patriarca e todos os altos dignitários da Igreja, acusando-os
de estrangularem a região do Volga com a mão descarnada da fome! E quanto mais
se obstinava com firmeza o patriarca, mais fraca se tornava a sua posição. Em
março desenhou-se um movimento entre o clero no sentido de ceder os valores e
de chegar a acordo com o poder. Os receios que ainda subsistiam foram expressos
a Kalínin pelo Bispo Antonin Granóvski, que tinha passado a fazer parte da
Comissão Central do Comitê do Estado de Ajuda às Vítimas da Fome: 'Os crentes
têm receio de que os valores da Igreja possam ser utilizados para outros fins,
para fins mesquinhos e alheios aos seus corações'. (Conhecendo os princípios
gerais da doutrina de vanguarda, o leitor experiente concordará em que isso era
muito provável, já que as necessidades do Komintern e do Oriente, que se
libertava, não eram menos agudas do que as da região do Volga.)
O metropolita de Petrogrado,
Veniámin, foi tomado também de um arrebatamento que não podia ser posto em
dúvida: 'Isto é de Deus, e nós daremos tudo. Mas não é necessário fazer
confiscos, a oferta deve ser voluntária".
(...) Veníamin anunciou: 'A
Igreja Ortodoxa está disposta a tudo dar em ajuda dos famintos, considerando
como um sacrilégio apenas o confisco pela violência'.
(...) O jornal Pravda de
Petrogrado, a 8, 9 e 10 de março (***), confirma a conclusão pacífica e com
êxito das conversações e escreve benevolentemente, referindo-se ao metropolita:
'No Smólni chegou-se a acordo em que os cálices e os revestimentos dos ícones
sejam fundidos em lingotes, na presença dos crentes'.
Mas de novo se está tramando um
compromisso! Os vapores envenenados do cristianismo empeçonham a vontade
revolucionária. Tal união e tal entrega dos valores não são necessários aos
esfomeados da região do Volga! É substituída a equipe invertebrada do Comitê do
Estado de Petrogrado de Ajuda às Vítimas da Fome, os jornais lançam ofensas
contra os 'maus pastores' e contra os 'príncipes da Igreja', esclarecendo os
seus representantes: 'Não precisamos de nenhum dos vossos sacrifícios! Nem de
ter quaisquer conversações convosco! Tudo pertence ao poder e ele tomará conta
do que considerar necessário'.
E começou em Petrogrado, como em
todos os outros lugares, o confisco pela força, que deu origem a incidentes
graves.
Agora havia fundamentos legais
par dar início aos processos religiosos (****).
Notas:
(*) Período que vai da morte de
Boris Godunov (1605) até a ascensão do primeiro Romanov (N. do T.).
(**) Paris, 1922, e samizdat,
1967.
(***) Artigos 'A Igreja e a fome'
e 'Como serão confiscados os bens da Igreja' (N. do A.).
(****) Esses dados foram por mim
colhidos do livro Ensaios sobre a história dos tumultos religiosos, de Anatóli
Levítin, Parte I, samizdat, 1962, e das Notas de interrogatório do Patriarca
Tíkhon, tomo 5 dos atos do processo judicial (N. do A.)".
(Arquipélago Gulag, de Alexandre Soljenítsin,
Difel, São Paulo, 1975, pg. 331 a 335).
Notas:
Samizdat -
Sistema de contrabando de manuscritos de intelectuais soviéticos para o
Ocidente. Às vezes, a própria KGB estava por trás desses contrabandos,
recebendo elevadas somas de dinheiro por obras proibidas na União Soviética que
eram publicadas no exterior. Nesses casos, os manuscritos eram confiscados das
residências dos dissidentes e remetidos ao Ocidente à revelia do autor. Em
1967, 3 livros sobre expurgos e campos de concentração tinham sido
contrabandeados para o Ocidente: Tempestade de Areia, de Galina
Serbryakova, "A Casa Abandonada, de Lydia Chikovskaya, e Uma
Jornada ao Furacão, de Evgenia Ginzburg.
"Churrasquinho chinês" - Durante a Revolução Cultural
chinesa, muitos condenados à morte tinham seus corpos retalhados, assados e
comidos. "Num massacre famoso, na escola de Mushan em 1968, na qual 150
pessoas morreram, vários fígados foram extirpados na hora e preparados com vinagre
de arroz e alho" (Canibais de Mao, inrevista Veja,
22 de janeiro de 1997, pg. 48-49). Essa prática de canibalismo se tornou
corriqueira, no período de 1968 e 1970, quando centenas de "inimigos do
povo" foram devorados em Guangxi, conforme pesquisas de Zheng Yi. O
trabalho de Zheng Yi, dissidente exilado nos EUA desde 1992, resultou no
livro Scarlet Memorial - Tales of Cannibalism in Modern China (Memorial
Escarlate - Histórias de Canibalismo na China Moderna). Na mesma época,
havia um tipo de tortura sui generis: alguns presos, ainda vivos, tinham seus
órgãos sexuais (pênis e testículos) arrancados, assados e comidos, como consta
no mesmo artigo de Veja: "Wang Wenliu, maoísta promovida a
vice-presidente do comitê revolucionário de Wuxuan durante a Revolução
Cultural, especializou-se em devorar genitais masculinos assados". Não é
de admirar que os chineses ainda hoje se refestelem - além de baratas untadas
em chocolate - com fetos humanos. Garantem que o feto de um primogênito é mais
gostoso, por ser mais consistente (Cfr. os endereços http://la3.blogspot.com/ e http://en.epochtimes.com/news/7-3-29/53482.html).
Bom apetite!
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