Sim, pode! Não é, estamos muito longe disso, mas pode. O arquipélago da Madeira tem excelentes condições para se fazer num ótimo exemplo para o mundo. O facto de seremos um arquipélago e estarmos afastados dos grandes centros europeus e mundiais, obriga-nos a procurar soluções próprias. Nessa necessidade de fazermos o nosso próprio caminho podemos dar um exemplo ao mundo com soluções de sustentabilidade ambiental, económica e social. Claro que para isso será necessário termos governantes, e mesmo cidadãos, com visão e coragem para construir esse projeto. Claro que não podemos continuar a alimentar o facilitismo da imitação das “soluções” que nos vendem de fora. Claro que teremos de voltar muito atrás nas opções que têm sido tomadas nas últimas décadas. Mas é certo que é a única forma de sair desta armadilha desenvolvimentista em que nos meteram e da qual só sairemos com uma visão diferente daquela que nos trouxe até aqui. Com a crise financeira, volta a ser sublinhada a importância de produzir e, nesse contexto, a necessidade de apostar numa economia verde como fonte de rendimento e de criação de emprego.
O arquipélago da Madeira, se não quiser passar completamente ignorado nos mapas mundiais e europeus, tem de começar a apostar na excelência num conjunto importante de setores. A energia é um desses setores. Somos dependentes em 90% da importação de combustíveis fósseis e os únicos projetos que se conhecem para mitigar esta situação é ao nível da produção elétrica por fontes endógenas. A geração elétrica tem de ser trabalhada, em particular com novas soluções de armazenamento de energia para o sistema elétrico, mas é a mobilidade de pessoas e bens que é responsável por cerca de 60% dos combustíveis que importamos (é dinheiro da nossa economia que sai para o exterior, não cria nem riqueza nem emprego cá). E na mobilidade é o automóvel que é rei e senhor. Os transportes públicos da Madeira são caríssimos e não respondem às necessidades dos madeirenses. É preciso fazer uma revolução ao nível da mobilidade coletiva.
O turístico é o nosso principal setor económico mas, infelizmente, continuamos a perder a nossa autenticidade devido à destruição da nossa paisagem e da nossa cultura. Num contexto de recuperação dos valores que temos vindo a degradar e a perder, é essencial estancar esse processo de degradação que continua a acontecer (basta recordar os exemplos que ainda vêm aí como a criação do cais de acostagem na zona do aterro em plena baía do Funchal, as obras de canalização das ribeiras ou mesmo as “estabilizações” de encostas, tudo intervenções que viram do avesso a Madeira que delicia quem nos visita). Para além de estancar este processo de descaraterização, é essencial ainda requalificar a paisagem no sentido de corrigir ou minimizar alguns dos erros que foram cometidos. A qualidade que temos de defender para o turismo não se coaduna com uma ilha cimentada e onde o nosso litoral foi transformado em escombros.
Outra área da maior importância neste desafio é a produção alimentar por via da agricultura, pecuária e pequena indústria de transformação alimentar. Não podemos continuar com o grau de dependência do exterior que temos atualmente em matéria alimentar. Quanto mais prevenirmos a importação menos a pouca riqueza que produzimos se irá perder para o exterior e, consequentemente, terá efeitos multiplicadores na nossa economia insular.
É que o desenvolvimento sustentável não é apenas um chavão. É acima de tudo uma prática que tem de ser concretizada no terreno. Mas para isso são necessárias as pessoas certas a governar o arquipélago da Madeira e uma outra atitude por parte dos madeirenses.
Hélder Spínola
publicado na Revista Saber, Julho de 2012
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