quarta-feira, 18 de julho de 2012

Extraordináriamente bem elaborado e potencialmente abrangente na divulgação dos propósitos.


Enquanto a Madeira arde... Ricardo Duarte Freitas


Enquanto a Madeira arde, o presidente do Governo Regional recupera de um acidente por engasgamento, salvo por um "anjo da guarda" que, por ser bombeiro, sabe como libertar do pecado da gula. Enquanto ardem madeiras no pinhal da Ponta do Pargo, e o lume estala a paisagem convertendo o verde em cinza, debate-se a sucessão do lugar deixado vago por Jorge Carvalho, o único membro do governo regional politicamente coerente. Mafalda Freitas, do Clube Naval, diz ‘não’ ao secretário Jaime Freitas e descobre-se que Francisco Gomes, presidente do CAB, não é, afinal, o novo director regional da Juventude e Desporto porque não é licenciado há mais de 12 anos. Se consultassem o ministério (ou melhor, o mistério) de influência de Miguel Relvas, já teriam resolvido a charada em menos de seis meses, com equivalência a 'honoris causa'. Nos quartéis, há bombeiros com formação há mais de 10 anos e que aguardam equivalência às carreiras de bombeiros iguais a eles, no resto do país.
Enquanto o arquipélago está em aviso amarelo devido ao risco de incêndios, a Assembleia Legislativa da Madeira volta a entrar em alerta laranja, manifestando as habituais tendências autocráticas com a aprovação de mais uma atrocidade que embaraça a demoracia representativa neste cantinho de socalcos portugueses. Pouco habituada ao convívio plural, a maioria social-democrata demonstra que ali habita apenas a vontade de um madeirense de nome Jardim. A aprovação daquele ridículo voto de protesto contra a presidente da Assembleia da República, pelo simples facto de Assunção Esteves ter recebido a bancada parlamentar do PTP de José Manuel Coelho, não aquece nem arrefece Lisboa, mas faz corar de vergonha qualquer habitante neste pedaço de basalto.
Enquanto dezenas de bombeiros arriscam a vida a debelar frentes em labaredas sem ir à cama durante 48 horas, salvando telhados da combustão certa e tentando serenar o pânico de uma população que sempre lutou por manter a salvo o tecto dos seus haveres, livrando-o dos confins do ‘inferno’, sob os telhados de vidro da Quinta Vigia, o presidente do governo regional combate outras frentes de fogo com a habitual arma: o banqueamento da verdade. Tentando convencer que o aumento de meio milhão de euros que Marítimo e Nacional vão receber é para benefício dos atletas e não dos dirigentes. Que não foi uma cedência à indignação dos clubes e das respectivas massas cegas, nem um recuo à chantagem de Rui Alves e aos tais “felizardos senhores” que auferem de vencimentos na ordem dos 9 mil euros para “fazerem umas reuniões e darem umas voltas”.
Enquanto duas dezenas de bombeiros da Ribeira Brava com dois meses de salários em atraso evitam a destruição de um cartaz turístico na Encumeada, travando entre barracos e encostas sinuosas a propagação das chamas, evitando que a Cordilheira Central da lha da Madeira volte a ficar chamuscada pela combustão de um fogo bem fresco na memória dos madeirenses que matou espécies indígenas e autóctones, outras espécias infestantes, com dois braços e duas pernas e cérebro de Bis Bis, continuam apostados em tapar o sol com a peneira, à medida que vão condenando esta terra sonâmbula à incompetência, à impunidade e à prepotência, conduzindo 265 mil seres vivos a uma lenta asfixia financeira, social, económica, cultural e desportiva. E deste incêndio sem emissão de gases, não há bombeiro que nos salve. Nem polícia que detenha esta pirómana mão criminosa que insiste em realizar queimadas não autorizadas que rapidamente se descontrolam só para manter aceso o lampião do poder que imputa ao povo o papel de suspeito ‘ad eternum’.

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