quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Filhos da puta olé



Domingo à noite, no fim da noite eleitoral, disseram-me que alguém arremessara very lights para a porta do DN Madeira. Passei lá pouco depois, mas parecia tudo normal. Quando voltei ao hotel, porém, encontrei a notícia no site do DN M, datada das 22.05, com vídeo e tudo: tinham sido lançados três very lights, acompanhados de cânticos guerreiros - "Nós só queremos ver/o Diário a arder" e "Filhos da puta olé" - , aquando da passagem de uma caravana da JSD/PSD (que incluía o presidente da juventude do partido, eleito deputado) pelo edifício do jornal. Adormeci convencida de que no dia seguinte haveria mais notícias sobre o caso, o qual, a confirmar- -se, não poderia deixar de suscitar generalizada indignação - afinal, este é o país onde toda a gente se preocupa com a liberdade de expressão e informação, certo? E uma ameaça/ataque deste tipo a um jornal, vinda de um partido, não se vê, que me lembre, desde 1975. A meio da tarde, porém, quando já em Lisboa dei uma volta nos sites noticiosos, nada encontrei. Fosse uma caravana de um clube de futebol a atacar um título desportivo e todos os telejornais abririam com directos do local. Mas neste caso os acusados são só "adeptos" de um partido - por acaso o que governa, quer nessa região quer no País. Uma coisa sem importância nenhuma, portanto.

"Isto que se passa aqui também é culpa vossa, dos jornalistas do Continente", disse-me um jornalista madeirense, durante a minha semana de reportagem. "Vêm cá de dez em dez anos e depois nunca mais falam disto." Tão verdade: ontem a Madeira já era "assunto de rescaldo", como se diz dos incêndios extintos. Mesmo que estivesse em causa uma ameaça de fogo posto, olé.

Por: FERNANDA CÂNCIO

Fonte. DN

Sem comentários: