segunda-feira, 20 de junho de 2011

Editorial: Um sequestro falhado

Ricardo Miguel Oliveira, Director


Guilherme Silva, Miguel de Sousa, Medeiros Gaspar, Sara André, Jaime Filipe Ramos, Nuno Teixeira, Vânia Jesus, Sérgio Marques, Nuno Olim, António Trindade, entre outros, foram compulsivamente obrigados por Alberto João Jardim a deixar de escrever no DIÁRIO.
Até ontem, alguns tomaram a iniciativa, que registámos e enaltecemos, de anunciar a suspensão da colaboração. Já a nosso pedido, e por escrito, a maioria confirmou que cessava a partilha da opinião nas nossas páginas. Houve quem fosse apanhado de surpresa. Alguns deram desculpas sem nexo. Outros assumiram com toda a frontalidade que se limitam a cumprir decisões da Comissão Política do partido a que pertencem e no qual têm cargos. Do painel de política, apenas um dirigente social-democrata garantiu a continuidade.
Respeitamos a opção de todos os colaboradores, a quem agradecemos a generosa contribuição para a diversidade do pensamento. Não nos cabe fazer juízos de valor sobre a decisão que tomaram. Mas porque assumimos publicamente compromissos com os assinantes e com os leitores do DIÁRIO, não podemos deixar passar sem reparo mais uma brincadeira do 'jardinismo' intolerante.
O líder do PSD-M, recorrendo a um expediente que habitualmente usa em meios que domina, tenta interferir na orientação deste jornal. Sem sucesso. Devia saber, dadas as múltiplas referências que faz ao estatuto editorial do DIÁRIO, que cabe ao Director subordinar a actuação deste jornal "a critérios de pluralismo". Um pluralismo que não se esgota na partidocracia dos ódios e das vinganças, ou nas concepções autoritárias dos que não admitem a diversidade e ignoram, entre outros princípios inquestionáveis, que no DIÁRIO os artigos devidamente assinados representam apenas e só a opinião daqueles que foram convidados a escrever.
Na tentativa de ameaçar o nosso estatuto, o PSD-M e o seu líder atentam contra tudo o que há de mais elementar nos meios de comunicação, a independência e o pluralismo. Mais, desrespeitam a Constituição e a liberdade de imprensa. Uma liberdade que "abrange o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações", exercício que "não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura".
Jardim insiste numa cruzada irracional. Continua a colocar "objectivamente em sério risco" o pluralismo na Região, como já alertou há um ano a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). Aliás, a directiva interna que impede os social-democratas de dar opinião no DIÁRIO é apenas mais um lamentável e vergonhoso episódio de uma longa série de atentados patrocinados pelo PSD-M e pelo seu líder. A opinião única no jornal pago pelos contribuintes; a perseguição ao jornalismo independente; o corte de assinaturas; as ameaças de expropriação; a recomendação empresarial ao boicote publicitário; as ofensas aos jornalistas; os múltiplos avisos de processos judiciais; o oneroso fomento da concorrência desleal com o objectivo de silenciar quem conta a verdade têm a marca de quem se habituou a emitir "fortes juízos de censura" e a ser pródigo nas contradições. Basta atender ao que disse no último congresso do PSD-M sobre a importância de ter gente a escrever no DIÁRIO.
Jardim quer ter argumentos para que as suas eternas queixas inconsequentes sejam agora válidas. Acusar-nos-á junto da ERC e da Comissão Nacional de Eleições de "sectarismo", de tratamento discriminatório do PSD e de darmos espaço "desproporcionado à oposição regional". Repetirá o que já está plasmado no 'relatório Coito', na conhecida farsa sobre a comunicação social regional.
O líder do PSD-M finge desconhecer as múltiplas recomendações da ERC, nomeadamente uma, "que não cabe aos poderes regionais a definição e implantação de níveis satisfatórios de pluralismo nos órgãos de comunicação social, uma vez que estes devem resultar das dinâmicas próprias".
Jardim tenta, em vão, desviar a atenção dos madeirenses do essencial, como se estes esquecessem que a Região, através do seu governo, tem vindo a intervir de forma lesiva no subsector da imprensa diária. O que Jardim quer esconder é o desrespeito pelas regras do pluralismo e da igualdade dos representantes das diversas forças político-partidárias no jornal da diocese mas que tem sequestrado. Como é que alguém que nem foi capaz de reformular o estatuto editorial do seu 'JM', por recomendação da ERC, dada a não correspondência entre o compromisso escrito de ser um jornal de "perspectiva cristã aberta a um são pluralismo ideológico" e as práticas seguidas, tem o desplante de insinuar-se como provedor dos conteúdos do DIÁRIO?
O DIÁRIO não se conforma com mais uma atropelo premeditado de quem só quer ter referências positivas nos meios de comunicação e defende um jornalismo que não questiona, não é incómodo e não faz um pacto com a ética e com a verdade. Também por isso, garantimos que nem o líder do PSD-M nem outro político da sua estirpe dará cabo do pluralismo que sempre defendemos e praticamos. Para que não esmoreça a missão democrática de dar tempo e espaço à diversidade. Para que possamos continuar a reflectir conhecendo o pensamento de quem se realiza em diversas áreas da nossa sociedade. Para que haja universalidade neste jornal regional.


Fonte: DN Madeira

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