quarta-feira, 11 de maio de 2011

O BLOCO DE ESQUERDA ESTÁ BLOQUEADO?



«Jerónimo de Susa disse, ontem, que o Bloco de Esquerda tem um problema: não se liberta da mania das grandezas. A frase é certeira. Francisco Louçã repetiu este fim-de-semana, no congresso, a ambição que o persegue desde 2005, quando os bloquistas cresceram de 2% para 6%: ser a "principal alternativa de esquerda" em Portugal. Num primeiro momento, para alcançar este objectivo, Francisco Louçã apostou forte na conquista de parte do eleitorado socialista, por um lado, e numa cisão do PS, por outro. Manuel Alegre serviu-lhe, na altura, as intenções. Foi o tempo em que o dirigente socialista foi cabeça-de-cartaz em acções políticas do BE, no Teatro da Trindade e na Aula Magna, enquanto ameaçava, dia sim, dia não, formar um novo partido. Foi também o momento em que o Bloco cultivou uma imagem moderada, "socialista e democrática", procurando fazer esquecer as suas origens e a sua cultura política radical. Este caminho parecia estar a dar frutos: em Setembro de 2009, o BE cresceu quase 200 mil votos, sobretudo à custa do eleitorado socialista descontente com o governo PS, e duplicou o número de deputados. Faltava o passo seguinte, o "golpe de mestre": apresentar Manuel Alegre como o candidato presidencial do Bloco. Sabemos que a "estratégia" de Francisco Louçã terminou em desastre eleitoral. Nem Manuel Alegre fundou um novo partido, nem o eleitorado socialista se deixou enredar na teia montada por Francisco Louçã.

Esgotada esta "estratégia" na noite das eleições presidenciais, o BE virou a agulha. Radicalizou o discurso e a acção política, invadiu o território natural da sua sombra - o PCP, mas sem possuir o potencial sindical dos comunistas. Esta nova estratégia, consagrada neste congresso, passa por acabar com os "paninhos quentes" em relação ao PS. Talvez, quem sabe, Francisco Louçã se tenha lembrado dos anos de 1983-85, quando um governo dirigido por Mário Soares solicitou a intervenção do FMI. Nas eleições seguintes, o PS registou o resultado mais baixo da sua história eleitoral, 20%, tendo perdido metade do seu eleitorado para um novo partido - o PRD -, que obteve 18%.

O líder bloquista "descobriu", aqui, um novo "sonho" à altura da sua megalomania. Este novo caminho começou pela apresentação de uma moção de censura ao governo, anunciada com um mês de antecedência, não fosse o PCP tecê-la, e acabou, ontem, pela exclusão "administrativa" do PS da "esquerda". No trajecto ficou a reunião inédita com o PCP ou a recusa em reunir com a troika, não aceitando, tal como o PCP, o "protectorado" das instituições financeiras internacionais.

Há neste desvario bloquista duas ideias-chave, marteladas até à exaustão, durante o congresso: na primeira, o PS faz parte da troika da direita - Paulo Portas, Passos Coelho e José Sócrates; na segunda, o BE é a "principal alternativa de esquerda", disponível para formar um "governo alargado de esquerda". Esta nova equação política, que se resolve com um governo BE-PCP, expressa a convicção de um crescimento eleitoral espectacular do BE e a derrocada eleitoral do PS. "Começou a viragem", disse Francisco Louçã no congresso, acrescentando que é necessário transportar o triunfo na rua em 12 de Março para as eleições de 5 de Junho. Este congresso do BE ressuscitou o PSR e a UDP. Por este andamento, é muito natural que as eleições de 5 de Junho comprovem as sondagens: uma queda do BE.

A estratégia anterior do BE morreu, em Janeiro, na noite das eleições presidenciais; esta pode morrer na noite de 5 de Junho. E depois, o que irá fazer Francisco Louçã, o mais antigo líder partidário português?»


Autor:
Tomás Vasques.

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