segunda-feira, 21 de março de 2011

Os invisíveis


Um marciano que aterrasse em Portugal e visse as televisões e lesse os chamados jornais de referência concluiria que o assunto mais importante do país era o congresso do CDS.

O paladino do jornalismo light e sexy, o Público, dá-lhe três páginas. Os canais televisivos noticiosos estão de manhã à noite em permanente directo. O que lá acontece de novo? O líder é contestado? O CDS/PP vai deixar de ser oposição e apoiar o governo? Nada disso, ao todo e por junto, Nobre Guedes reconciliou-se com Paulo Portas. O congresso do CDS é uma não notícia. Nada de novo aconteceu. Tudo de importante: a chamada à votação do PEC IV no parlamento, o facto de ir concorrer sozinho as eleições que se avizinham, estava decidido antes do conclave começar. O sonorífero massacre televisivo só pode ter duas razões: ou os jornalistas de política tornaram-se tão próximos de determinados políticos que se esqueceram dos critérios jornalísticos, não percebendo que noticiar significa mediar e seleccionar o importante no meio do acessório, ou, no caso das televisões, para justificarem o fim de semana em Viseu e os meios de directo deslocados, torturam os espectadores com incontáveis horas de emissão.
O mais grave é que essas horas não significam uma cobertura de qualidade, toda a comunicação social referiu que o congresso tinha cerca de 1000 delegados, na votação sobre o fim das eleições directas do líder participaram pouco mais de 300 delegados e nenhum jornalista reflectiu sobre a veracidade da informação que divulgaram antes.
Voltemos ao Público, e à maioria da comunicação social, ao contrário do congresso do CDS, minimizaram a gigantesca manifestação da CGTP. Na edição online ela estava relegada para as últimas notícias e o referido diário, por exemplo, dedica-lhe uma página. O Correio da Manhã corre a coisa com 1/4 de página. Uma cobertura substancialmente diferente daquela que, correctamente, dedicaram às manifestação de dia 12 de Março. É visível que para a direcção do jornal da Sonae, como para os outros, há camadas sociais que são visíveis, como os delegados do CDS, e outros que praticamente não existem. Uma das maiores manifestações sindicais que Lisboa viu, nunca aconteceu. É suposto ser silenciada com umas linhas de circunstância.

Por Nuno Ramos de Almeida

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