quarta-feira, 30 de março de 2011

A Diocese do Funchal e o Jornal da Madeira. Por José Luís Rodrigues


Os subsídios públicos ao Jornal da Madeira (JM) são um escândalo, uma ofensa aos pobres da nossa terra. Não são se trata de centenas nem milhares de euros, mas milhões desbaratados porta fora para alimentar salários gordos e pretensas crónicas jornalísticas para ofender toda a gente, exaltar um desgoverno regional e um partido político sem sentido nenhum no que diz respeito à Democracia.

Porém, mais escandalosos são os argumentos que se aludem para justificar tais subsídios. Pluralidade de informação. Direito ao contraditório. Combate aos comunas do Diário de Notícias. Entre tantas outras balelas fantasmagóricas que se não fossem patéticas ao invés de nos pôr a rir ponha-nos a chorar de vergonha.

A Igreja Católica da Madeira faz parte desta teia. Tem um suplemento chamado de «Pedras Vivas», caderno semanal que sai ao domingo. Nele dá-se conta das actividades episcopais quase em exclusivo, como se a Igreja da Madeira fosse só e apenas aquilo que o Prelado realiza. É certo que a Igreja da Madeira precisa de um espaço para publicitar e divulgar as suas actividades. Algo mais simples, mais barato, mais próximo das comunidades religiosas (Paróquias) e mais liberto de qualquer entidade política.

Alguns poderão acusar-me de já ter participado e colaborado nesse dito caderno religioso do JM, é verdade, colaborei durante 10 anos. Foram os meus primeiros anos de vida sacerdotal. Foi uma aprendizagem. Uma escola. Mas, porque não sou ingénuo, chegado o dia em que a censura aos meus textos se fez sentir, desisti imediatamente. Não podia colaborar mais com uma realidade que violava os meus princípios e, especialmente, a liberdade de expressão, valor essencial dos nossos tempos.

Hoje, tendo em conta todas as dificuldades que o mundo atravessa e, em particular, a nossa região, a Igreja devia distanciar-se daquele sorvedouro de dinheiros públicos que tanta falta fazem noutros domínios mais prementes da população da Madeira.

Acho quase indecente que a Igreja Católica da Madeira faça sombra moral de forma tão pacífica ao que se passa com o JM e o Governo Regional da Madeira. É preciso demarcar-se e corajosamente assumir que não pactuamos com um conluio injusto, que viola vários princípios da Democracia e, a consequente, pluralidade de expressão.

Porém, face a uma Igreja que se entretém com uma sobrecarga de actividades puramente religiosas e que vive de mão estendida perante o Governo da Madeira, esperando pelos subsídios para construir novas igrejas, não lhe fica muita margem de manobra, resta-lhe o silêncio face ao JM e contentar-se com as migalhas que daí advêm e ficar bem quietinha para que não lhe sejam cortados os «queridinhos» subsídios. É assim, e sempre foi, quem tem o dinheiro manda. Pois bem, a Igreja Católica enredou-se na teia que ajudou a criar.

O JM ofende, frequentemente muita gente sem que as pessoas a seguir tenham direito a resposta. Já se passou comigo. Ainda recentemente tive essa experiência. E mais, repito, os milhões públicos que o JM mói por ano são uma ofensa aos pobres da Madeira.

Ora face a isto a Igreja não pode pactuar com um órgão de informação que ofende uma parte da humanidade. Deve demarcar-se disso. E ainda, com que autoridade pede colaboração aos fiéis para darem dinheiro para ajudar os pobres, quando ao lado legitima uma forma tão gastadora de dinheiros públicos que podiam ser canalizados para a ajuda solidária? – Não se compreende e à luz do Evangelho está totalmente inadequado.

Na Madeira o princípio evangélico «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus!» (cf. Mt, 22, 15-22; MC, 12, 13- 17), sai muito violentado no que diz respeito a este aspecto aflorado nesta reflexão. Que a oração e a conversão Pascal que se advinham nos façam pensar muito a sério sobre o que é melhor para o futuro da nossa terra. Fonte: Banquete da palavra

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