Recolheu mais de 8.500 assinaturas na Madeira e concorreu à Presidência da República. Se chegar ao Palácio de Belém, a primeira medida é dissolver a Assembleia Legislativa da Madeira. Na campanha que agora decorre para as eleições de 23 de Janeiro usa de duas estratégias, qual general vietnamita Giap: guerrilha na Madeira e guerra convencional no Continente. O discurso faz-se em três frentes: combate à corrupção, aos altos salários dos políticos e à Justiça. Deixou a carrinha funerária na Madeira mas levou para o continente o mesmo discurso acutilante.
Vai ser poupado na campanha eleitoral e conta gastar pouco mais de 7 mil euros. Os apoiosvêm do Povo e dos comerciantes. Não está refém de ideologias e conta passar à segunda volta das Presidenciais para disputar o cargo com Cavaco Silva. Na Madeira espera ter mais votos do que Manuel Alegre.Para Coelho, Cavaco Silva é um neoliberal cujo expoente máximo está no caso BPN. Manuel Alegre é "um revolucionário que deixou de sonhar". Defensor Moura é um "candidato lebre"de Manuel Alegre. E Francisco Lopes é o candidato para segurar o eleitorado do PCP.
O resultado que conta obter terá "um efeito devastador" sobre os partidos da oposição regional nas eleições de Outubro próximo. E não crê que o PSD-M veja em si uma espécie de 'idiota útil' para arrasar ainda mais a oposição. Sobre o regime jardinista, acredita que "vai ruir por dentro" e nem acredita na renovação pedida por Miguel Albuquerque que se assemelha à da 'Primavera marcelista'.
Foi difícil chegar até aqui, reunir as mais de 7.500 assinaturas? Que dificuldades encontrou neste processo?
Esperava encontrar dificuldades mas o que me surpreendeu pela positiva foi a facilidade com que tive em obter essas 8.500 assinaturas. A ideia partiu do Sr. João Paulo Gomes, antigo deputado do PS-Madeira, ilustre militante do PS colocado na prateleira na altura da gestão do Sr. Mota Torres. Inicialmente não acreditei mas, para fazer a vontade ao Sr. João Paulo Gomes, de quem sou amigo pessoal, decidi aceitar. Comecei a ver uma adesão maciça dos madeirenses e isso surpreendeu-me pela positiva. Era uma coisa que não era habitual nesta terra. Sei como os madeirenses têm medo de subscrever qualquer coisa que seja da oposição. Quanto estava na CDU e na antiga APU, a grande dificuldade era levar os madeirenses a serem candidatos às autarquias. Dizem que o Dr. Alberto João Jardim controla isto tudo, persegue as pessoas e, depois,'quero um emprego para o meu filho ou a minha filha e não tenho'. As pessoas têm esses medos por causa da perseguição que se faz por causa da opinião.
Houve entraves burocráticos, junto do Tribunal Constitucional, reconhecimento de assinaturas, Juntas de Freguesia?
Não. A legislação impõe-se a todos os candidatos. O Tribunal Constitucional exige que as assinaturas sejam em triplicado. Dois impressos são para a junta de Freguesia e um para o Tribunal. Mas isso não é uma dificuldade para nós, é para todas as candidaturas.
Qual o financiamento da sua campanha? Tem financiamento de algum partido, de voluntários? Sabendo que o financiamento público só advém do resultado que obtiver nas eleições?
Para obter financiamento público é preciso 5% da votação. O meu financiamento tem surgido das pessoas do povo e dos pequenos comerciantes. O pequeno comércio sente-se cada vez mais estrangulado. Tem a concorrência desleal das grandes superfícies e está numa crise extrema. Está-se a verificar uma proletarização das classes médias. Eles é que têm sido os grandes financiadores da minha campanha.
Tem uma estimativa de quanto é que vai gastar nesta campanha?
É uma ideia para uns 7 mil euros, talvez não chegue a isso. Porque a minha candidatura é modesta. Vamos viajar nos transportes públicos. Andar a pé, percorrendo as aldeias e as cidades do país. Vamos às tascas, aos bares onde o povo se reúne. Comer nos restaurantes baratos. A nossa candidatura não é apoiada pelos partidos. Vem directamente do povo e destina-se ao povo. É uma candidatura onde vão votar aquelas pessoas que já se desacreditaram dos partidos e dos políticos engravatados que só os roubam diariamente e que se banqueteiam com os sues impostos. A minha candidatura é para receber os apoiantes que estão descontentes com os ladrões dos nossos impostos.
Qual vai ser o seu discurso? Na Madeira tem dois alvos. A Justiça e o jardinismo. Na campanha que está a encetar no continente vai manter estas duas bandeiras? Quais vão ser as suas principais denúncias, as suas linhas de rumo?
A minha campanha no continente vai centrar-se em três vectores essenciais. O combate à corrupção, o combate aos altos salários dos políticos e o combate à Justiça. Os Tribunais, o Ministério Público deixaram de ser um órgão de soberania. Estão subservientes ao poder político e aos grandes senhores do dinheiro. Quando veio o 25 de Abril estava em Lisboa, no batalhão de caçadores 5. Participei no 25 de Abril, fui um homem de Abril, dei o meu modesto contributo à Revolução. Verifiquei que a Revolução mexeu em todos os sectores da sociedade menos no aparelho de justiça que continuou igual ao do fascismo. Os senhores juízes continuaram na magistratura, reformaram-se e estão hoje jubilados com salários faraónicos. A magistratura continuou reaccionária e com cariz fascista. Os juízes reaccionários que nunca foram saneados pela Revolução, fizeram escola na magistratura. E hoje temos uma magistratura conservadora, reaccionária, hostil às Liberdades, persegue os jornalistas, os cidadãos que denunciam. E há casos bastante claros em Portugal. O de Domingos Névoa em que quem denunciou, Ricardo Sá Fernandes, foi condenado a pagar 30 mil euros ao corrupto.
O que é que o presidente da República, no exercício das suas funções, pode fazer para combater a corrupção em Portugal?
Pode mandar mensagens ao Governo para que tome medidas. Actualmente não se combate a corrupção. A Polícia Judiciária tem feito grandes progressos no combate à corrupção, investiga. A advocacia também tem feito grande progressos e tem denunciado a falta de isenção dos juízes. Mas não quero generalizar. Há ainda juízes e procuradores bons, honestos e sérios. Mas, a grande maioria, está comprometida com os grandes senhores do dinheiro. E são os protectores da corrupção.
Vai levar a carrinha funerária para o continente? Como é que acha que o eleitorado no continente olha para o senhor Coelho? Será como aquele deputado da bandeira nazi na Assembleia e com o relógio ao pescoço? Como é que se vai tentar passar a mensagem?
No continente vamos usar uma metodologia diferente. Na Madeira, o povo é alegre, simples, gosta de festas, arraiais, teatro. Nós usamos teatro de rua para satirizar um regime que se eterniza no poder, persegue os cidadãos, é anti-democrático. É um regime que é uma caricatura de democracia e que tem de ser caricaturada de uma forma satírica. No continente, como temos uma público diferente, a nossa campanha vai ser diversificada. O discurso vai ser com menos teatro. Por isso não levamos o carro funerário que significa que vamos enterrar, sepultar a corrupção. No continente, onde as instituições democráticas funcionam melhor do que na Madeira não faz sentido essa sátira. Vamos usar uma mensagem mais séria, mais directa. Vamos seguir a táctica de combate do célebre general vietnamita Giap. Ele tinha uma dupla forma de actuação contra os franceses que colonizavam a Indochina em 1955, a guerrilha e a guerra convencional. Mais tarde, os americanos foram derrotados com essa mesma técnica na célebre batalha de 1968.
As televisões nacionais fizeram uma série de debates em que ficou de fora. Segue-se o ciclo de entrevistas. Sente-se mais à-vontade para debates ou entrevistas?
Estou preparados para tudo. A minha candidatura baseia-se num princípio simples. Não sou apoiado pelos partidos. Não estou refém de ideologias. Vem dos povo e representa do povo, os excluídos, os marginalizados pelo sistema, os desempregados, as pessoas que vivem do Rendimento de Reinserção. A minha mensagem é muito simples, objectiva e clara. Quem apoia a minha candidatura são os cidadãos que pagam impostos. São contra os cidadãos que roubam impostos. Os políticos engravatados e todas as suas clientelas que vivem á custa do orçamento.
Um bom resultado eleitoral, para si, qual seria?
Sou um utópico, um sonhador. O utópico tenta tornar o impossível, possível. O meu objectivo é passar à segunda volta e disputar com o Sr. professor Aníbal Cavaco Silva a 2.ª volta. Não tenho rabos de palha. Não estou comprometido com esta sociedade corrupta e decadente. Sou um candidato do povo. A minha luta é defender quem paga os impostos, combater a corrupção, por uma Justiça digna porque sem isso o nosso país nunca será viável do ponto de vista económico.
Como é que olha para a oposição regional à luz do 'fenómeno PND', 'fenómeno Coelho' que esvazia um pouco o eleitorado do PSD mas também da oposição tradicional, CDU, BE, MPT? Que efeito é que isto poderá ter nas próximas eleições Regionais que estão aí à porta, j em Outubro?
Acredito que vai ter um efeito devastador sobre os partidos da oposição madeirense. Acomodaram-se ao regime e desempenham um papel de legitimação do regime. Temos uma Assembleia que raramente reúne, quando reúne o Governo não comparece. Se na Assembleia da República se verificasse o que aqui se verifica seria um escândalo nacional. O Sr. Primeiro-Ministro vai quinzenalmente à Assembleia prestar contas e defender a sua política perante os deputados. Aqui, nem os senhores secretários nem o Sr. presidente do Governo se apresenta à Assembleia Regional para prestar contas. Quando vai é só uma vez por ano e para insultar todos os deputados da oposição e para denegrir a própria Assembleia. E tem lá o líder parlamentar que quando abre a boca para intervir é só para ofender toda a gente e dizer os piores impropérios.
Mas também notou que o PSD-M terá mudado um pouco a sua visão em relação ao PND e em relação a si. Acha que o PSD-M poderá aproveitar-se desse fenómeno para estraçalhar ainda mais a oposição?
O PSD-M está assustado com o avolumar da adesão popular à minha candidatura e à nossa luta. O PND, na Madeira, não é um partido de direita. Foi uma 'barriga de aluguer' para receber democratas de vários partidos descontentes com o cenário político regional, com a própria inoperância dos partidos da oposição. Que se juntaram a nós num grupo heterogéneo com um único objectivo, combater o jardinismo e instaurar um regime democrático na Madeira, restaurar o 25 de Abril que nunca chegou cá. Quando comecei a recolher assinaturas, o Dr. Alberto João Jardim não acreditava no sucesso da recolha de assinaturas. Depois quando acordaram, quando começaram a chegar às Juntas de Freguesia, centenas e centenas de pedidos de certidões de apoio, à última da hora, o Dr. Alberto João Jardim entrou em pânico e decidiu publicar no Jornal da Madeira a cópia de uma subscritora da minha candidatura, a Sr.ª Zita Cardoso, quadro destacado do PSD. Perseguiram a senhora, o professor Luís Ferreira, presidente da Junta de Freguesia de São Gonçalo durante três mandatos e apoiou a minha candidatura. É o regime jardinista desesperado.
A estratégia de fazer queixas quer à Comissão de Eleições quer, eventualmente, aos tribunais vai ser mantida pela sua candidatura?
Vamos usar todos os meios legais. Vamos fazer o Estado de Direito e as suas instituições funcionar. O facto de não terem funcionado até aqui explica que o jardinismo já se arrasta há 33 anos sempre com vitórias. Ocupa as Juntas de freguesia, as Câmaras, as colectividades desportivas, de cultura e recreio. O regime estalinista açambarca tudo. Toma conta de toda a vida económica, social e política da Região.
Mas há vozes discordantes no PSD-M. Leu a última entrevista do Dr. Miguel Albuquerque em que se faz um apelo à renovação séria. No seu entender o PSD-M vai ruir por dentro ou é preciso algo de fora que o faça ruir?
O PSD-M vai ruir por dentro. Enquanto o Dr. Alberto João Jardim estiver à frente, o regime mantém-se unido e coeso. Ele é a figura carismática que congrega as hostes laranja. Quando sair vai-se dar o desmoronamento do PSD. O Sr. Miguel Albuquerque quer uma renovação mas a renovação de que fala é a mesma coisa de Marcelo Caetano na 'Primavera Marcelista'. É uma evolução na continuidade. As mesmas clientelas do costume, os mesmos barões, os mesmos tiranetes a engordar e a assaltar o Orçamento Regional.
Como é que olha para os seus adversários nestas eleições. Qual o retrato, o perfil que retira de cada um deles?
Acho arcaico o termo adversários. Não tenho adversários, combato ideias. Sou um democrata e acho que numa Democracia avançada, como queremos, os cidadãos combatem ideias, não pessoas. Os ilustres candidatos são concidadãos que merecem o meu maior respeito como pessoas. As minhas ideias são contrárias à dos outros ilustres candidatos. Acho que as deles estão erradas, não serve o país e já demonstraram por A+B que não funcionaram. O Sr. Professor Aníbal Cavaco Silva é protagonista de uma história económica, o neoliberalismo. É a doutrina do Keynes em que se defendia a liberalização completa dos mercados, sem intervenção do Estado. Essa escola económica foi seguida à risca, nos Estado-Unidos, por Ronald Reagen e George Bush e por Margareth Tatcher, a dama de ferro inglesa. E o que vimos foi o 'crash' da Bolsa de Nova York e os bancos que faliram na avalanche de Bernard Madoff. Essa escola foi seguida pelo Sr. professor Cavaco Silva. Liberalizou a economia portuguesa, entregou as empresas estatizadas ao capital privado, liberalizou o sistema bancário. O descalabro dá-se agora no BPN.
E o Manuel Alegre, não é um combativo, não o apoiaria se não fosse candidato?
O Sr. escritor Manuel Alegre é um revolucionário que deixou de sonhar. Tem um passado de luta anti-fascista inegável e de grande valor mas caracterizaria o Sr. Manuel Alegre por aquele dramaturgo alemão, o Bertolt Brecht, que caracteriza bem os revolucionários: Há revolucionários que lutam um dia e são bons; há revolucionários que lutam um mês, e são melhores; há aqueles revolucionários que lutam um ano, são excelentes; e há aqueles revolucionários que lutam toda à vida, esses são imprescindíveis. Há revolucionários que ficam a meio caminho, como foi o caso do Sr. escritor Manuel Alegre. Ele teve um grande passado de luta, era membro do PCP, lutou na clandestinidade, esteve exilado, era locutor da rádio Portugal Livre, em Argel. Depois foi afastado do PCP por desentendimentos internos e vem para o PS, acomodou-se a um partido burguês, deslumbrou-se com os corredores do poder, ficou anos a apoiar o PS que, ao longo de sucessivos governos, tem feito a política de desastre económico neo-liberal de direita. Só agora decidiu vir a terreiro combater a política neoliberal. Mas todo este tempo esteve calado, acomodou-se aos privilégios da burguesia. Por exemplo, que moral tem o Sr. Manuel Alegre de vir agora falar contra a corrupção, o clientelismo político, os altos salários dos políticos se ele próprio tem dois ordenados. Enquanto o Sr. professor Aníbal Cavaco Silva tem três reformas e um ordenado, o Sr. Manuel Alegre tem uma reforma e um ordenado. Trabalhou durante seis meses na Rádio Difusão Portuguesa e aufere uma reforma de 3.775 euros e tem o ordenado de deputado. Que moral tem um revolucionário para moralizar o país se ele próprio beneficia dessas sinecuras.
E os outros três candidatos, o candidato apoiado pelo PCP, Francisco Lopes, o Dr. Fernando Nobre e o Dr. Defensor Moura?
São candidatos do sistema. O Sr. Defensor Moura é do PS, está comprometido com a política neo-liberal do Eng. Sócrates, do Eng. Guterres que tem feito muito mal aos portugueses. É um candidato lebre do Sr. Manuel Alegre porque faz o trabalho duro de atacar ferozmente a candidatura do professor Aníbal Cavaco Silva para poupar a imagem do seu candidato Manuel Alegre. É uma candidatura combinada. Faz os ataques mais ferozes, mais descabelados, muito deles com denúncias correctas mas para poupar a imagem do Sr. candidato Manuel Alegre. Quanto ao candidato do PCP é uma candidatura para segurar o eleitorado comunista, dos sindicatos. A candidatura do PCP não é nacional, que abranja todas as classes sociais do país. É uma candidatura virada para oa proletariado da grande Lisboa, da Margem Sul. Não é uma candidatura vencedora como a minha.
Espera ter mais votos na Madeira do que Manuel Alegre?
Espero que sim. Até espero que os madeirense me vão dar mais votos do que ao professor Aníbal Cavaco Silva. Na medida em que o Dr. Alberto João Jardim tem diabolizado os portugueses do continente. Ele chama cubanos. Todos os candidatos do continente são atacados por Alberto João Jardim de uma forma bairrista. Já chamou 'Sr. Silva' ao Sr. Professor Aníbal Cavaco silva e pediu a sua expulsão do partido. Agora era bom que o Sr. Dr. Alberto João Jardim explicasse ao povo madeirense essa contradição. Tendo agora um candidato madeirense como é que vai explicar aos madeirenses o apelo ao voto num cubano.
Sabe quais as competências que a Constituição, nos seus artigos 120.º e 133.º e seguintes, incumbe ao presidente da República. Dá-lhe competências no âmbito do Conselho de Estado, defesa nacional, convocação de referendos, condecorações, dissolução das Assembleias.
Vai ser poupado na campanha eleitoral e conta gastar pouco mais de 7 mil euros. Os apoiosvêm do Povo e dos comerciantes. Não está refém de ideologias e conta passar à segunda volta das Presidenciais para disputar o cargo com Cavaco Silva. Na Madeira espera ter mais votos do que Manuel Alegre.Para Coelho, Cavaco Silva é um neoliberal cujo expoente máximo está no caso BPN. Manuel Alegre é "um revolucionário que deixou de sonhar". Defensor Moura é um "candidato lebre"de Manuel Alegre. E Francisco Lopes é o candidato para segurar o eleitorado do PCP.
O resultado que conta obter terá "um efeito devastador" sobre os partidos da oposição regional nas eleições de Outubro próximo. E não crê que o PSD-M veja em si uma espécie de 'idiota útil' para arrasar ainda mais a oposição. Sobre o regime jardinista, acredita que "vai ruir por dentro" e nem acredita na renovação pedida por Miguel Albuquerque que se assemelha à da 'Primavera marcelista'.
Foi difícil chegar até aqui, reunir as mais de 7.500 assinaturas? Que dificuldades encontrou neste processo?
Esperava encontrar dificuldades mas o que me surpreendeu pela positiva foi a facilidade com que tive em obter essas 8.500 assinaturas. A ideia partiu do Sr. João Paulo Gomes, antigo deputado do PS-Madeira, ilustre militante do PS colocado na prateleira na altura da gestão do Sr. Mota Torres. Inicialmente não acreditei mas, para fazer a vontade ao Sr. João Paulo Gomes, de quem sou amigo pessoal, decidi aceitar. Comecei a ver uma adesão maciça dos madeirenses e isso surpreendeu-me pela positiva. Era uma coisa que não era habitual nesta terra. Sei como os madeirenses têm medo de subscrever qualquer coisa que seja da oposição. Quanto estava na CDU e na antiga APU, a grande dificuldade era levar os madeirenses a serem candidatos às autarquias. Dizem que o Dr. Alberto João Jardim controla isto tudo, persegue as pessoas e, depois,'quero um emprego para o meu filho ou a minha filha e não tenho'. As pessoas têm esses medos por causa da perseguição que se faz por causa da opinião.
Houve entraves burocráticos, junto do Tribunal Constitucional, reconhecimento de assinaturas, Juntas de Freguesia?
Não. A legislação impõe-se a todos os candidatos. O Tribunal Constitucional exige que as assinaturas sejam em triplicado. Dois impressos são para a junta de Freguesia e um para o Tribunal. Mas isso não é uma dificuldade para nós, é para todas as candidaturas.
Qual o financiamento da sua campanha? Tem financiamento de algum partido, de voluntários? Sabendo que o financiamento público só advém do resultado que obtiver nas eleições?
Para obter financiamento público é preciso 5% da votação. O meu financiamento tem surgido das pessoas do povo e dos pequenos comerciantes. O pequeno comércio sente-se cada vez mais estrangulado. Tem a concorrência desleal das grandes superfícies e está numa crise extrema. Está-se a verificar uma proletarização das classes médias. Eles é que têm sido os grandes financiadores da minha campanha.
Tem uma estimativa de quanto é que vai gastar nesta campanha?
É uma ideia para uns 7 mil euros, talvez não chegue a isso. Porque a minha candidatura é modesta. Vamos viajar nos transportes públicos. Andar a pé, percorrendo as aldeias e as cidades do país. Vamos às tascas, aos bares onde o povo se reúne. Comer nos restaurantes baratos. A nossa candidatura não é apoiada pelos partidos. Vem directamente do povo e destina-se ao povo. É uma candidatura onde vão votar aquelas pessoas que já se desacreditaram dos partidos e dos políticos engravatados que só os roubam diariamente e que se banqueteiam com os sues impostos. A minha candidatura é para receber os apoiantes que estão descontentes com os ladrões dos nossos impostos.
Qual vai ser o seu discurso? Na Madeira tem dois alvos. A Justiça e o jardinismo. Na campanha que está a encetar no continente vai manter estas duas bandeiras? Quais vão ser as suas principais denúncias, as suas linhas de rumo?
A minha campanha no continente vai centrar-se em três vectores essenciais. O combate à corrupção, o combate aos altos salários dos políticos e o combate à Justiça. Os Tribunais, o Ministério Público deixaram de ser um órgão de soberania. Estão subservientes ao poder político e aos grandes senhores do dinheiro. Quando veio o 25 de Abril estava em Lisboa, no batalhão de caçadores 5. Participei no 25 de Abril, fui um homem de Abril, dei o meu modesto contributo à Revolução. Verifiquei que a Revolução mexeu em todos os sectores da sociedade menos no aparelho de justiça que continuou igual ao do fascismo. Os senhores juízes continuaram na magistratura, reformaram-se e estão hoje jubilados com salários faraónicos. A magistratura continuou reaccionária e com cariz fascista. Os juízes reaccionários que nunca foram saneados pela Revolução, fizeram escola na magistratura. E hoje temos uma magistratura conservadora, reaccionária, hostil às Liberdades, persegue os jornalistas, os cidadãos que denunciam. E há casos bastante claros em Portugal. O de Domingos Névoa em que quem denunciou, Ricardo Sá Fernandes, foi condenado a pagar 30 mil euros ao corrupto.
O que é que o presidente da República, no exercício das suas funções, pode fazer para combater a corrupção em Portugal?
Pode mandar mensagens ao Governo para que tome medidas. Actualmente não se combate a corrupção. A Polícia Judiciária tem feito grandes progressos no combate à corrupção, investiga. A advocacia também tem feito grande progressos e tem denunciado a falta de isenção dos juízes. Mas não quero generalizar. Há ainda juízes e procuradores bons, honestos e sérios. Mas, a grande maioria, está comprometida com os grandes senhores do dinheiro. E são os protectores da corrupção.
Vai levar a carrinha funerária para o continente? Como é que acha que o eleitorado no continente olha para o senhor Coelho? Será como aquele deputado da bandeira nazi na Assembleia e com o relógio ao pescoço? Como é que se vai tentar passar a mensagem?
No continente vamos usar uma metodologia diferente. Na Madeira, o povo é alegre, simples, gosta de festas, arraiais, teatro. Nós usamos teatro de rua para satirizar um regime que se eterniza no poder, persegue os cidadãos, é anti-democrático. É um regime que é uma caricatura de democracia e que tem de ser caricaturada de uma forma satírica. No continente, como temos uma público diferente, a nossa campanha vai ser diversificada. O discurso vai ser com menos teatro. Por isso não levamos o carro funerário que significa que vamos enterrar, sepultar a corrupção. No continente, onde as instituições democráticas funcionam melhor do que na Madeira não faz sentido essa sátira. Vamos usar uma mensagem mais séria, mais directa. Vamos seguir a táctica de combate do célebre general vietnamita Giap. Ele tinha uma dupla forma de actuação contra os franceses que colonizavam a Indochina em 1955, a guerrilha e a guerra convencional. Mais tarde, os americanos foram derrotados com essa mesma técnica na célebre batalha de 1968.
As televisões nacionais fizeram uma série de debates em que ficou de fora. Segue-se o ciclo de entrevistas. Sente-se mais à-vontade para debates ou entrevistas?
Estou preparados para tudo. A minha candidatura baseia-se num princípio simples. Não sou apoiado pelos partidos. Não estou refém de ideologias. Vem dos povo e representa do povo, os excluídos, os marginalizados pelo sistema, os desempregados, as pessoas que vivem do Rendimento de Reinserção. A minha mensagem é muito simples, objectiva e clara. Quem apoia a minha candidatura são os cidadãos que pagam impostos. São contra os cidadãos que roubam impostos. Os políticos engravatados e todas as suas clientelas que vivem á custa do orçamento.
Um bom resultado eleitoral, para si, qual seria?
Sou um utópico, um sonhador. O utópico tenta tornar o impossível, possível. O meu objectivo é passar à segunda volta e disputar com o Sr. professor Aníbal Cavaco Silva a 2.ª volta. Não tenho rabos de palha. Não estou comprometido com esta sociedade corrupta e decadente. Sou um candidato do povo. A minha luta é defender quem paga os impostos, combater a corrupção, por uma Justiça digna porque sem isso o nosso país nunca será viável do ponto de vista económico.
Como é que olha para a oposição regional à luz do 'fenómeno PND', 'fenómeno Coelho' que esvazia um pouco o eleitorado do PSD mas também da oposição tradicional, CDU, BE, MPT? Que efeito é que isto poderá ter nas próximas eleições Regionais que estão aí à porta, j em Outubro?
Acredito que vai ter um efeito devastador sobre os partidos da oposição madeirense. Acomodaram-se ao regime e desempenham um papel de legitimação do regime. Temos uma Assembleia que raramente reúne, quando reúne o Governo não comparece. Se na Assembleia da República se verificasse o que aqui se verifica seria um escândalo nacional. O Sr. Primeiro-Ministro vai quinzenalmente à Assembleia prestar contas e defender a sua política perante os deputados. Aqui, nem os senhores secretários nem o Sr. presidente do Governo se apresenta à Assembleia Regional para prestar contas. Quando vai é só uma vez por ano e para insultar todos os deputados da oposição e para denegrir a própria Assembleia. E tem lá o líder parlamentar que quando abre a boca para intervir é só para ofender toda a gente e dizer os piores impropérios.
Mas também notou que o PSD-M terá mudado um pouco a sua visão em relação ao PND e em relação a si. Acha que o PSD-M poderá aproveitar-se desse fenómeno para estraçalhar ainda mais a oposição?
O PSD-M está assustado com o avolumar da adesão popular à minha candidatura e à nossa luta. O PND, na Madeira, não é um partido de direita. Foi uma 'barriga de aluguer' para receber democratas de vários partidos descontentes com o cenário político regional, com a própria inoperância dos partidos da oposição. Que se juntaram a nós num grupo heterogéneo com um único objectivo, combater o jardinismo e instaurar um regime democrático na Madeira, restaurar o 25 de Abril que nunca chegou cá. Quando comecei a recolher assinaturas, o Dr. Alberto João Jardim não acreditava no sucesso da recolha de assinaturas. Depois quando acordaram, quando começaram a chegar às Juntas de Freguesia, centenas e centenas de pedidos de certidões de apoio, à última da hora, o Dr. Alberto João Jardim entrou em pânico e decidiu publicar no Jornal da Madeira a cópia de uma subscritora da minha candidatura, a Sr.ª Zita Cardoso, quadro destacado do PSD. Perseguiram a senhora, o professor Luís Ferreira, presidente da Junta de Freguesia de São Gonçalo durante três mandatos e apoiou a minha candidatura. É o regime jardinista desesperado.
A estratégia de fazer queixas quer à Comissão de Eleições quer, eventualmente, aos tribunais vai ser mantida pela sua candidatura?
Vamos usar todos os meios legais. Vamos fazer o Estado de Direito e as suas instituições funcionar. O facto de não terem funcionado até aqui explica que o jardinismo já se arrasta há 33 anos sempre com vitórias. Ocupa as Juntas de freguesia, as Câmaras, as colectividades desportivas, de cultura e recreio. O regime estalinista açambarca tudo. Toma conta de toda a vida económica, social e política da Região.
Mas há vozes discordantes no PSD-M. Leu a última entrevista do Dr. Miguel Albuquerque em que se faz um apelo à renovação séria. No seu entender o PSD-M vai ruir por dentro ou é preciso algo de fora que o faça ruir?
O PSD-M vai ruir por dentro. Enquanto o Dr. Alberto João Jardim estiver à frente, o regime mantém-se unido e coeso. Ele é a figura carismática que congrega as hostes laranja. Quando sair vai-se dar o desmoronamento do PSD. O Sr. Miguel Albuquerque quer uma renovação mas a renovação de que fala é a mesma coisa de Marcelo Caetano na 'Primavera Marcelista'. É uma evolução na continuidade. As mesmas clientelas do costume, os mesmos barões, os mesmos tiranetes a engordar e a assaltar o Orçamento Regional.
Como é que olha para os seus adversários nestas eleições. Qual o retrato, o perfil que retira de cada um deles?
Acho arcaico o termo adversários. Não tenho adversários, combato ideias. Sou um democrata e acho que numa Democracia avançada, como queremos, os cidadãos combatem ideias, não pessoas. Os ilustres candidatos são concidadãos que merecem o meu maior respeito como pessoas. As minhas ideias são contrárias à dos outros ilustres candidatos. Acho que as deles estão erradas, não serve o país e já demonstraram por A+B que não funcionaram. O Sr. Professor Aníbal Cavaco Silva é protagonista de uma história económica, o neoliberalismo. É a doutrina do Keynes em que se defendia a liberalização completa dos mercados, sem intervenção do Estado. Essa escola económica foi seguida à risca, nos Estado-Unidos, por Ronald Reagen e George Bush e por Margareth Tatcher, a dama de ferro inglesa. E o que vimos foi o 'crash' da Bolsa de Nova York e os bancos que faliram na avalanche de Bernard Madoff. Essa escola foi seguida pelo Sr. professor Cavaco Silva. Liberalizou a economia portuguesa, entregou as empresas estatizadas ao capital privado, liberalizou o sistema bancário. O descalabro dá-se agora no BPN.
E o Manuel Alegre, não é um combativo, não o apoiaria se não fosse candidato?
O Sr. escritor Manuel Alegre é um revolucionário que deixou de sonhar. Tem um passado de luta anti-fascista inegável e de grande valor mas caracterizaria o Sr. Manuel Alegre por aquele dramaturgo alemão, o Bertolt Brecht, que caracteriza bem os revolucionários: Há revolucionários que lutam um dia e são bons; há revolucionários que lutam um mês, e são melhores; há aqueles revolucionários que lutam um ano, são excelentes; e há aqueles revolucionários que lutam toda à vida, esses são imprescindíveis. Há revolucionários que ficam a meio caminho, como foi o caso do Sr. escritor Manuel Alegre. Ele teve um grande passado de luta, era membro do PCP, lutou na clandestinidade, esteve exilado, era locutor da rádio Portugal Livre, em Argel. Depois foi afastado do PCP por desentendimentos internos e vem para o PS, acomodou-se a um partido burguês, deslumbrou-se com os corredores do poder, ficou anos a apoiar o PS que, ao longo de sucessivos governos, tem feito a política de desastre económico neo-liberal de direita. Só agora decidiu vir a terreiro combater a política neoliberal. Mas todo este tempo esteve calado, acomodou-se aos privilégios da burguesia. Por exemplo, que moral tem o Sr. Manuel Alegre de vir agora falar contra a corrupção, o clientelismo político, os altos salários dos políticos se ele próprio tem dois ordenados. Enquanto o Sr. professor Aníbal Cavaco Silva tem três reformas e um ordenado, o Sr. Manuel Alegre tem uma reforma e um ordenado. Trabalhou durante seis meses na Rádio Difusão Portuguesa e aufere uma reforma de 3.775 euros e tem o ordenado de deputado. Que moral tem um revolucionário para moralizar o país se ele próprio beneficia dessas sinecuras.
E os outros três candidatos, o candidato apoiado pelo PCP, Francisco Lopes, o Dr. Fernando Nobre e o Dr. Defensor Moura?
São candidatos do sistema. O Sr. Defensor Moura é do PS, está comprometido com a política neo-liberal do Eng. Sócrates, do Eng. Guterres que tem feito muito mal aos portugueses. É um candidato lebre do Sr. Manuel Alegre porque faz o trabalho duro de atacar ferozmente a candidatura do professor Aníbal Cavaco Silva para poupar a imagem do seu candidato Manuel Alegre. É uma candidatura combinada. Faz os ataques mais ferozes, mais descabelados, muito deles com denúncias correctas mas para poupar a imagem do Sr. candidato Manuel Alegre. Quanto ao candidato do PCP é uma candidatura para segurar o eleitorado comunista, dos sindicatos. A candidatura do PCP não é nacional, que abranja todas as classes sociais do país. É uma candidatura virada para oa proletariado da grande Lisboa, da Margem Sul. Não é uma candidatura vencedora como a minha.
Espera ter mais votos na Madeira do que Manuel Alegre?
Espero que sim. Até espero que os madeirense me vão dar mais votos do que ao professor Aníbal Cavaco Silva. Na medida em que o Dr. Alberto João Jardim tem diabolizado os portugueses do continente. Ele chama cubanos. Todos os candidatos do continente são atacados por Alberto João Jardim de uma forma bairrista. Já chamou 'Sr. Silva' ao Sr. Professor Aníbal Cavaco silva e pediu a sua expulsão do partido. Agora era bom que o Sr. Dr. Alberto João Jardim explicasse ao povo madeirense essa contradição. Tendo agora um candidato madeirense como é que vai explicar aos madeirenses o apelo ao voto num cubano.
Sabe quais as competências que a Constituição, nos seus artigos 120.º e 133.º e seguintes, incumbe ao presidente da República. Dá-lhe competências no âmbito do Conselho de Estado, defesa nacional, convocação de referendos, condecorações, dissolução das Assembleias.
Se chegar a Presidente da República que medidas é que tomaria no imediato?
Dissolvia a Assembleia Legislativa da Madeira. Convocava eleições e exortava a Comissão Nacional de Eleições a ser isenta, o que não tem acontecido. E as eleições tinham de ser livres, democráticas e justas. Depois ia combater os abusos, dar mensagens ao Governo no sentido de criar legislação adequada para fazer a reforma da Justiça. E todas as leis que viessem da parte da Assembleia da República ou do Governo e que fossem anti-democráticas, prejudiciais aos trabalhadores e a quem produz riqueza seriam vetadas.
Fonte: DN Madeira
Dissolvia a Assembleia Legislativa da Madeira. Convocava eleições e exortava a Comissão Nacional de Eleições a ser isenta, o que não tem acontecido. E as eleições tinham de ser livres, democráticas e justas. Depois ia combater os abusos, dar mensagens ao Governo no sentido de criar legislação adequada para fazer a reforma da Justiça. E todas as leis que viessem da parte da Assembleia da República ou do Governo e que fossem anti-democráticas, prejudiciais aos trabalhadores e a quem produz riqueza seriam vetadas.
Fonte: DN Madeira
Sem comentários:
Enviar um comentário