terça-feira, 30 de novembro de 2010

O alucinado


A maioria dos funchalenses conhece certamente um pobre coitado, que atravessa alucinado as ruas da cidade, em passo largo e rápido, como uma avestruz assanhada, numa vozeirada descontrolada.

É sempre a mesma coisa: a rapaziada, sabida, manda-lhe umas bocas, e lá vai, disparado, o infeliz, desde o Mercado dos Lavradores até à Rua da Carreira, a gritar "Seu porco! Sabujo da m…!", sempre a olhar para trás, como se alguém o estivesse a perseguir.

O Dr. Jardim fez-me lembrar essa figura trágico-cómica quando, reagindo à acção popular dos Barreiros, abriu a sua bocarra cavernosa, e disse "isso é porco, porco", perante o olhar embevecido da pequena claque que o cercava.

Sem querer descer ao nível da criatura (coisa, aliás, difícil), devo dizer que, num momento em que há tanto desemprego, em que a crise atinge as reformas dos nossos idosos e os mais pobres, em que começa mesmo a haver subnutrição da nossa população, em que assistimos impotentes ao desmoronar da economia regional, gastar centenas de milhões de euros na engorda de clubes de futebol e em projectos faraónicos de clubes falidos, nas mãos de dirigentes incompetentes e/ou venais, não é apenas porco, é uma ignóbil porcaria.

A mesma ignóbil porcaria em que o Dr. Jardim transformou esta região e que leva todos os dias centenas de eleitores às mesas de apoio à candidatura à Presidência da República de um humilde pintor de construção civil, o Sr. José Manuel Coelho, naquela que é já, simultaneamente, a mais séria e excêntrica manifestação de protesto cívico alguma vez feita na Madeira, e até no pais.

Por:Baltasar Aguiar, Advogado

Fonte:DN-Madeira

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