segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Certificação da Asneira


Certificação pode significar apenas um processo burocrático e a exibição de um selo vazio

Não é uma expressão minha, ouvia-a da boca de um ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros, numa reunião do Conselho Consultivo de uma das maiores empresas de certificação do país. A expressão referia-se ao risco dos sistemas de certificação não resultarem numa garantia de que os produtos e serviços são efectivamente de qualidade e respeitam o ambiente, dando mais importância aos registos e burocracias.

"A certificação da asneira" é uma expressão de que me recordo sempre que me confronto com certificações ambientais que demonstram falhas gritantes nas mais elementares práticas ambientais. A manutenção de lâmpadas acesas durante o dia, em zonas iluminadas pela luz natural, é uma das falhas mais frequentes. Nas minhas deslocações a Lisboa, por responsabilidades como dirigente nacional da Quercus, passei alguns momentos nos aeroportos da Madeira e da Portela, ambos com certificação ambiental pelas normas ISO 14001. Por várias vezes, dei-me ao trabalho de contabilizar o número de lâmpadas desnecessariamente acesas, em locais próximos às janelas e com boa luz natural. No Aeroporto da Madeira encontrei, em média, cerca de 400 lâmpadas ligadas nessas circunstâncias e na Portela esse valor ascendia a mais de 1200. Fazendo algumas contas simples, cheguei à conclusão que todas estas lâmpadas acesas, para além da poluição e emissão de gases com efeito de estufa que representam, resultam em mais de 9 mil euros de energia desperdiçada. Neste caso, a falta de cuidados ambientais acaba por ter também consequências económicas, sendo ainda mais incompreensível a falta de exigência no processo de certificação.

Numa outra situação, em que o meu computador portátil teve um problema, dirigi-me a uma empresa certificada pelas normas ISO 9001 que deveria dar garantias de qualidade. Disseram-me que não conseguiam recuperar nada do disco rígido, tinha perdido tudo. Inconformado, dirigi-me a outra empresa, esta sem certificação de qualidade, e conseguiram recuperar cerca de 30% da informação do disco. Passados alguns dias, falei no assunto ao meu irmão mais novo e ele aconselhou-me a comprar uma caixa externa para o disco e aceder-lhe através de outro computador. Desta forma consegui recuperar 100% da informação. A certificação não me tem deixado boa impressão, confesso.

Fonte: DN-Madeira

Sem comentários: