terça-feira, 24 de agosto de 2010

Deixar Arder?! Deixo aqui o artigo que publiquei, a 10 de Setembro de 2008. Quem foi apanhado desprevenido?


Por: Hélder Spínola


Muito havia a escrever em relação aos recentes incêndios que calcinaram as serras da Madeira mas para que o Governo Regional e a Protecção Civil não digam, novamente, que foram apanhados desprevenidos deixo aqui o artigo que publiquei, a 10 de Setembro de 2008, neste mesmo espaço de opinião:

«Mais um Verão. Mais incêndios florestais. As várias notícias e as colunas de fumo na paisagem dão-nos conta que os nossos recursos naturais, bens materiais e mesmo vidas humanas continuam ameaçados pelo flagelo dos incêndios. Na Madeira, quando os incêndios florestais ocorrem em áreas de difícil acesso não merecem grande atenção, vingando a máxima popular de que o melhor é "deixar arder para limpar o mato". Só quando atinge zonas habitadas surge o também popular "Ai Jesus".

De prevenção pouco se fala e menos se faz. De combate o limite são as bermas dos caminhos. É necessário repensar os meios disponíveis e a estratégia que tem sido seguida na Madeira em relação a este problema até porque as estatísticas são claras na conclusão de que, comparativamente ao todo nacional, a situação regional é grave.

Os dados oficiais revelam que os incêndios na Madeira constituem um problema tão grave como no continente. Em 2003, ano em que o problema atingiu uma dimensão nunca antes vista, os incêndios consumiram uma área correspondente a 4,6% de toda a área geográfica de Portugal continental. Na Madeira, nesse mesmo ano, apesar do assunto ter sido ignorado, os incêndios percorreram 5% da área da ilha. Em 2006, outro ano mau para a Madeira, a área ardida correspondeu a 4,5% da área da ilha enquanto que em Portugal continental foi de 1%.

Estes dados revelam que o problema na Madeira é, em termos relativos, mais grave do que no território continental. Apesar disso e enquanto a nível nacional esta questão tem merecido grande atenção nos últimos anos com resultados muitos interessantes, na Madeira continuamos sem apostar na prevenção, vigilância e mesmo combate.

Um exemplo paradigmático desta falta de estratégia e atenção ao problema é o incêndio florestal que se manteve ao longo de toda a semana passada junto à Boca do Risco no vale de Machico, um vale martirizado todos os anos. Este incêndio não foi extinto devido à impossibilidade de garantir uma intervenção segura para os bombeiros naquela encosta íngreme. Mas qual seria a capacidade de intervenção caso estivesse disponível na Madeira um meio aéreo de combate a incêndios, nomeadamente um helicóptero com um kit de combate a fogos florestais?

Em tempos a importância dos meios aéreos suscitou algum debate público na Madeira. O Governo entendeu que seria caro manter um meio aéreo para esse fim e houve mesmo quem utilizasse o argumento da segurança na sua operação devido às correntes de ar ascendentes que podem ocorrer nos nossos vales.
Por Hélder Spínola
Quanto ao custo seria necessário compará-los com os prejuízos provocados pelos incêndios e retirar daí as devidas ilações. Por outro lado, o helicóptero não teria de estar apenas associado ao combate aos incêndios podendo ser utilizado noutras actividades, nomeadamente turísticas ou de segurança e salvamento. Uma solução "barata" e evidente seria o helicóptero da Força Aérea estacionado na Região possuir um kit de combate a incêndios florestais.

No que à segurança diz respeito, é um assunto a aprofundar melhor mas não podemos esquecer que no continente também existem zonas com condições muito semelhantes às nossas onde ocorrem incêndios e onde os meios aéreos actuam com sucesso.

Por enquanto, sem meios aéreos, a solução mais consequente é apostar na prevenção e vigilância (o que não tem acontecido) mas quando essa abordagem prioritária falhar ficamos sem outra alternativa senão "deixar arder"».

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