

Radar é situação própria de regime de partido único
Raimundo Quintal faz ironia de uma inauguração com pompa e circunstância
O radar do Pico do Areeiro cresce a olhos vistos. As últimas fotos foram divulgadas por Raimundo Quintal, no blogue 'bisbis'.
Em declarações ao DIÁRIO, o geógrafo diz que a construção daquele equipamento de defesa é "uma machadada violenta em termos de paisagem", mas não se mostra surpreendido com o resultado final. Desde 2002 que vem alertando para o que agora está à vista de todos.
Mas já nada o desilude. Está habituado a que, em matéria ambiental, exista uma distância entre os discursos e a prática. É algo que se vê em todo o mundo e que piora em regimes "de partido único, onde a democracia se faz com pouca discussão e onde não há uma opinião pública forte".
Tudo isto permite ataques à paisagem como o radar do Pico do Areeiro. O pico, que integra uma Zona Especial de Conservação da Rede Natura 2000, tem sido um dos cavalos de batalha do geógrafo e professor universitário, que já na década de oitenta se batia pela demolição da pousada que então existia no local. Foi uma luta que levou a cabo com os seus alunos da altura, entre os quais o agora conhecido artista plástico RIGO, que fez alguns dos cartazes.
Mas a verdade é que a situação do Pico piorou substancialmente e Raimundo Quintal acha ridículo quando se diz que tudo isto é para defender a soberania portuguesa, tendo em conta que o equipamento e a tecnologia são espanhóis.
Em seu entender, era altura de se começar a pensar seriamente nestas e em outras intervenções, para que depois não se chore pelos turistas perdidos. Porque afinal o que vão ver os turistas que nos visitam: um radar e "jardins públicos e privados que são uma vergonha".
Sobre a possibilidade de um novo radar, desta vez meteorológico, Raimundo Quintal diz, com ironia, que "já agora que começaram a estragar devem continuar". E devem fazê-lo em grande, até com o programado centro de educação ambiental, que será vizinho do radar, e que é uma espécie "de bula que se paga na Quaresma para poder comer carne".
Aliás, no mesmo tom irónico, diz que até deviam ter sido mais ambiciosos e aumentar a altura do radar de forma a tornar o Pico do Areeiro mais alto do que o Pico Ruivo.
Depois faziam a festa, da mesma forma que se continuou a fazer "quando caiu o Império Romano". Até porque, recorda Raimundo Quintal, tem sido uma festa constante em torno do radar. Há dias foi a Força Aérea que gastou imenso dinheiro para fazer voar os F-16 com toda a gente a aplaudir, e espera que o mesmo aconteça com a inauguração radar. Em seu entender, deve ser feita com pompa e com condecorações aos cientistas que estudaram os impactos do radar.
"Deverá ser uma inauguração com pompa e discursos adequados à circunstância dos grandes geoestrategas Alberto João Jardim e Augusto Santos Silva. Jaime Gama e Paulo Portas, pelo que se esforçaram para que o monstro nascesse, também merecem estar presentes na cerimónia da implantação do Sítio NATO 2010 sobre a Zona Especial de Conservação da Rede Natura 2000". Isto na certeza de que "incomparavelmente com menos dinheiro, mas com muita persistência e consciência ambiental, a Associação dos Amigos do Parque Ecológico continua a apostar no retorno das espécies indígenas aos píncaros da Ilha".
Mudar de nome
Atendendo a que "o Governo Regional e o Ministério da Defesa andam felicíssimos com o nascimento do radar militar no Pico do Areeiro", Raimundo Quintal propõe que o pico mude de nome, à semelhança do que aconteceu em 1984, quando a Quinta das Angústias foi rebaptizada de Quinta Vigia, e já este ano quando a Herdade da Achada Grande passou a chamar-se Herdade do Chão da Lagoa. Segundo o geógrafo, a mudança de nome justifica-se, "porque o pico cresceu de 1818 metros para 1833 metros de altitude e porque o radar militar passou a ser a eminência mais visível daquele conjunto montanhoso. Assim sendo, o terceiro pico mais alto da Madeira deverá passar a a ser conhecido popularmente por Pico do Radar". No site bisibis.blogspot.com, Raimundo Quintal refere que as obras decorrem a bom ritmo e dentro de alguns meses os madeirenses sentir-se-ão mais seguros, graças ao sofisticado equipamento espanhol que vigiará os céus em busca de aviões e outros objectos que possam perigar a paz nesta pérola do Atlântico. Diz mesmo que o novo sistema de defesa apenas "não impedirá a invasão do vento de leste, das areias e poeiras do Sara, das nuvens de gafanhotos e dos escaravelhos das palmeiras."
Fonte:http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/219254/madeira/219322-radar-e-situacao-propria-de-regime-de-partido-unico
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