quinta-feira, 29 de abril de 2010

Padre José Luís indignado em defesa da Ribeira Seca.Sacerdote critica desrespeito pelo povo e pela sua fé no caso da visita da imagem Fátima









O padre José Luís Rodrigues revela "indignação" perante os contornos da visita da imagem peregrina da Senhora de Fátima à paróquia da Ribeira Seca, em Machico, nomeadamente com a decisão - tornada pública pelo cónego Manuel Martins - de excluir a igreja paroquial das celebrações litúrgicas agendadas para o próximo dia 8 de Maio.

Num texto intitulado 'As Lágrimas de Maria de Nazaré', publicado no seu blog pessoal 'O Banquete da Palavra', o pároco de São Roque e São José defende que esta situação "está envolta num profundo desrespeito por um povo simples", que "reclama o direito de expressar a sua fé no espaço que é seu, porque trabalhou e lutou por ele". O padre José Luís Rodrigues considera mesmo que tirar ao povo da Ribeira Seca a possibilidade de receber a imagem peregrina na igreja paroquial "é ferir a sua alma e violar um dos mais elementares direitos humanos".

A contestação é feita em forma de dez perguntas, a primeiras da quais questiona se o Papa Bento XVI terá, efectivamente, conhecimento da situação da referida paróquia. De resto, mais à frente o sacerdote madeirense lança o repto para que esta situação seja denunciada às instâncias superiores da Igreja Católica, por forma a que possa chegar ao conhecimento do Papa.

O padre José Luís Rodrigues interroga-se ainda sobre a legitimidade de se considerar que uma igreja paroquial está "ocupada indevidamente" (palavras proferidas pelo cónego Manuel Martins), tendo em conta que foi o povo da Ribeira Seca "que trabalhou e deu as suas ofertas para edificar esse templo". Por isso mesmo, lança uma outra reflexão: "será justo condenar e ostracizar um povo que ama e acolhe para o guiar na sua igreja um padre que sempre o defendeu dos poderosos e tomou militantemente a opção de estar sempre ao lado do seu povo?".

Ainda sob a forma de pergunta, o padre madeirense critica o aproveitamento que se estará a fazer da imagem peregrina "para guerrear, provocar a quem sabe reavivar feridas", actos que em seu entender acabam por manchar esta visita.

Culminando esta reflexão, o pároco interroga-se sobre aquilo que é mais importante para a Igreja, o Direito Canónico ou o Evangelho? "Para a maioria dos cristãos é óbvia a resposta, para os hierarcas sedentos de poder temporal não parece ser tão óbvio", sublinha.

"Guerra da Idade Média"

O pároco da Ribeira Seca diz que a decisão de excluir a igreja paroquial das celebrações (a eucaristia será realizada na escola básica) é "uma guerra" que se assemelha "à Idade Média", ao estilo dos confrontos entre "protestantes e adventistas".

Em declarações prestadas ontem à TSF-M, o padre Martins Júnior considera que, mais do que atingir o povo da Ribeira Seca, esta decisão é "uma ofensa a Maria, Mãe de Jesus Cristo" e ao "coração aberto de uma Mãe". Confessando "alguma mágoa" por assistir "a este cenário degradante, despojado de ideias e vazio", o sacerdote diz que a comissão da igreja da Ribeira Seca continua a aguardar resposta à carta enviada ao cónego Manuel Martins a solicitar a visita da imagem peregrina.

A referida comissão realiza esta tarde, pelas 17 horas, na biblioteca da igreja local, uma conferência de imprensa onde irá abordar a questão da visita da imagem peregrina.

Nélio Gomes

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