Pontassolense, Camacha, Santana, CF União, enfim. As dificuldades financeiras que afectam os clubes têm tido eco nos últimos tempos. Os jogadores queixam-se de salários em atraso, de situações difíceis do ponto de vista social, que não advém - ao contrário do que seria vulgar exaltar nos tempos que correm - da crise financeira que assola o Mundo, segundo afirma Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), em entrevista ao DIÁRIO.
O problema é antigo. "Existe é menos mediatização porque os jogadores sentem-se mais isolados", explica. O dirigente acredita que a "autoridade é exercida com maior força na ilha" e que isso reflecte-se em "mais represálias, coagem os atletas, e tudo isso leva a que a situação não tenha tanto mediatismo."
Mas as dificuldades não se esgotam em questões financeira para o líder do SJPF. "Existem também atropelos a direitos fundamentais desde a liberdade de expressão, ameaças, colocam os jogadores a treinar à parte. Tudo isso se verifica diariamente", conforme lhe informam.
As críticas de Joaquim Evangelista ao estado do futebol madeirense são várias e estendem-se por diversas direcções. Acusa mesmo os clubes de ludibriarem o Fisco e a Segurança Social, classificando o facto de "fenómeno do falso amadorismo ou falso profissionalismo". "Inscrevem jogadores como amadores para depois não pagarem impostos. Tudo isso é feito à descarada", explica.
Aponta por isso o dedo aos dirigentes madeirenses que, nota, só "respeitam o Alberto João Jardim". "Só aceitam a crítica quando é ele quem critica, e bem, os clubes profissionais pelas contratações que às vezes fazem sem qualquer tipo de análise prévia em relação ao custo/benefício. Tirando isso há um sentimento de impunidade por parte do dirigismo madeirense na relação com os demais agentes desportivos".
Para Joaquim Evangelista, e segundo informações recolhidas diariamente, "não existe respeito pela comunicação social, pelos jogadores, pelos adversários". E até acha que deveria de haver esse respeito quando gerem os clubes com dinheiros públicos que desvirtuam a verdade desportiva. "Há outros clubes que se esforçam, que são rigorosos e transparentes, mas depois são penalizados quando em comparação com aqueles que são ajudados. Mas este fenómeno não é exclusivo da Madeira", apressa-se a sublinhar.
O apoio do Governo ao desporto é mesmo alvo de intensas críticas. "A subsidiodependência gera um dirigismo atrofiado. Não há necessidade de arranjar soluções e quando falta alguma coisa é um problema. É fácil chegar ao fim do mês, receber o cheque e fazer a contabilidade. Quando isso sucede as coisas correm bem, quando falta o dinheiro..."
Em suma, no seu entender, a ajuda do Executivo "está a causar danos graves ao futebol na Madeira porque os dirigentes não têm necessidade de ser proactivos. Ficam à espera que seja o Governo Regional a resolver". E por isso acha que o Governo tem de meditar sobre o assunto. "Tem de saber o que quer. Se pretende dirigentes subsidiodependentes que estão à espera do cheque para pagar aos jogadores. Ou se quer ter dirigentes activos, empreendedores que reformulem o futebol madeirense."
Apesar das dificuldades actuais, Joaquim Evangelista tem poucas dúvidas de que a crise será resolvida em breve... pela mão do GR. "Actualmente, se o Governo Central não disponibiliza uma verba maior ao Governo Regional obviamente que os clubes ficam penalizados. Quando a torneira abrir vão se resolver os problemas."
Joaquim Evangelista considera, no entanto, que a ajuda do executivo madeirense não devia ser a solução para as dificuldades dos clubes. "Devia de haver uma cultura de responsabilidade e não de subsidiodependência."
"Estrangeirização abusiva"
Em defesa do jogador português, Joaquim Evangelista critica o que considera de "estrangeirização abusiva" das "referências da região que são o Marítimo e o Nacional". Aposta que classifica como "inceitável" e que deveria merecer a análise particular de Rui Alves, porque "já deu a entender estar a estudar uma possível candidatura à presidência da Liga". "Era importante saber a sua posição sobre esta matéria, se quer clubes que não cumprem, um futebol assente em jogadores estrangeiros ou um futebol onde haja obrigações e igualdade e impere a contratação de jogadores portugueses. Isso é que acho importante discutir por alguém que pretende ocupar a presidência da Liga".
Apesar do cenário negro pintado pelo dirigente, Evangelista acredita que "o futebol madeirense tem condições, mais do que qualquer outro, de não viver esses problemas" desde que os "dirigentes sejam responsabilizados". "Agora se eu gasto 100 e depois dão-me mais 100. Obviamente que eu continuo a fazer o mesmo. Isso origina vícios", raciocina.
Visita à Madeira: "Vou falar com a AFM"
Joaquim Evangelista reafirmou o desejo expresso recentemente ao DIÁRIO de vir à Madeira e diz estar a "ajustar a agenda de maneira a que isso aconteça rapidamente."
Na ilha promete encetar conversações com vários responsáveis. "Vou falar com a AFM. Obviamente que a Federação e as associações têm responsabilidades, mas as associações, infelizmente, limitam-se a realizar trabalho administrativo. Uma associação tem o dever e obrigação de reflectir sobre os problemas que afectam a modalidade no seu raio de acção, mas isso não acontece. Limitam-se a inscrever os jogadores e a cobrar os encargos que isso representa. Fazem uns torneios e pouco mais do que isso", aponta.
O dirigente refere ainda que os problemas que afectam o futebol madeirense podem merecer o contributo do sindicato, nomeadamente a disponibilização do fundo de apoio a jogadores que no entanto, nota, "não é ilimitado". Mas onde possa haver dificuldades iremos apoiar os mais carenciados".
A concluir critica "a Associação ou a Federação". "Não sabiam das dificuldades destes clubes e mesmo assim inscreveram-nos?".
Falatório
Existem atropelos a direitos fundamentais desde a liberdade de expressão, ameaças, colocam-nos a treinar à parte...
Há ainda o fenómeno do falso amadorismo ou falso profissionalismo, como queiram, que é o facto de inscreverem jogadores como amadores para depois não pagarem impostos. Tudo isso é feito à descarada.
Os dirigentes acostumaram-se a ter autoridade e vão consolidando essa postura. Não existe respeito pela comunicação social, pelos jogadores, pelos adversários.
A subsidiodependência gera um dirigismo atrofiado. Não há necessidade de arranjar soluções e quando falta alguma coisa é um problema. É fácil chegar ao fim do mês, receber o cheque e fazer a contabilidade. O Governo resolve.
Há uma estrangeirização abusiva, inaceitável, que não pára, nomeadamente das referências da região, o Marítimo e o Nacional.
Se eu gasto 100 e depois dão-me mais 100. Obviamente que eu continuo a fazer o mesmo. Isso origina vícios.
Edmar Fernandes
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