
Filipe Luís*: "Paulo Portas 2, Sócrates 3"
Os picos do debate vistos à hora do jantar. Ementa do comentador: um chicharro salgado, cozido, com cebola crua, batatas, feijão verde e beringela. Branco da Extremadura, de produção particular. Queijos e peras do pomar. O prato - e as cartas - estão na mesa
Respeitinho e distância Paulo Portas refere-se ao primeiro-ministro como "José Sócrates". Este responde interpelando-o por "senhor doutor". O que pensará a bem comportada Direita, que sempre nos ensinou que o respeitinho é muito bonito? Um ponto para Sócrates.
O que é "o nosso melhor"? José Sócrates afiança que deu "o seu melhor". O seu melhor pode ser pouco. Quase no fim do debate, Paulo Portas lembra que "o nosso melhor, todos damos". Um ponto para Portas.
Economia e fiscalidade Belíssima síntese de Paulo Portas. Claro, certeiro, seguro e preparado. Boa réplica de Sócrates. Puxa por alguns galões, mas está na defensiva. Empate com tendência mais para Portas.
Defesa ou Segurança? Sócrates leva a guerra do Iraque ao debate... a martelo: a propósito de Segurança. Ora, isto é Defesa. Sócrates responde com a Damaia e com o Cacém. Um ponto para Portas.
Votou ou não votou? Portas esperava ganhar no tema "Segurança", mas Sócrates aguenta bem e entra mesmo ao ataque. Torpedeia a argumentação de Portas com números. Apanha Portas em contradição e este fica baralhado: afinal não está a ganhar. Surpresa: um ponto para Sócrates.
Desemprego empatado Portas é certeiro no desemprego, mas demagógico q.b.. Sócrates aguenta-se e justifica bem a tese do "fim da recessão". Empate.
Não querem trabalhar Paulo Portas fala ao coração dos portugueses, a propósito do rendimento mínimo, explorando, aliás, o nacional sentimento da inveja: uns recebem do Estado e outros é que pagam... Muito claro, certeiro e inatacável. A conversa de taxista rende. Mas Sócrates, fugindo a este tema incómodo, puxa dos galões, nos apoios sociais do seu Executivo e confronta Portas com a falta deles, no último Governo AD. Portas pega na frase "dormiu descansado" e despeja um rol de acusações a Sócrates, manipuladas à luz de alguma demagogia. Empate com tendência mais Sócrates. Antes do último tema, o debate está empatado.
Na argumentação, na preparação de ambos, nos truques, nas interpelações e nos soundbytes. Com surpresa, Paulo Portas está mais irritado do que José Sócrates. Mas também está mais genuíno e menos actor. O último tema vai decidir tudo...
Educação Paulo Portas mete os pés pelas mãos e não consegue explicar a tese da livre escolha para a frequência da escola. José Sócrates elenca as mudanças que houve na Educação, com o seu Governo, demonstra que as políticas de Educação não se resumiram à avaliação dos professores - da qual nem é obrigado, pelo seu interlocutor, a falar... - e ganha. Desempate a favor de Sócrates.
Moderação Uma lição de bom senso. Perante regras rígidas e burocráticas, impeditivas de um bom debate, a moderadora teve um critério largo. Utilizou o bom senso contra o contra-senso das regras. Deu espaço à vivacidade e mostrou que é no terreno que as coisas se decidem. Um ponto para Constança Cunha e Sá.
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