
JOSÉ A. ROQUE MARTINS
No início deste ano, no Dia
Mundial da Paz, o Papa Bento
XVI fez chegar a todos os cidadãos
do mundo uma Mensagem
em que nos convidava a
reflectir sobre o tema: “Combater
a Pobreza, Construir a Paz”.
Na linha de João Paulo II, na Mensagem para o Dia Mundial
da Paz de 1993, sublinhou as repercussões negativas que acaba
por ter sobre a paz a situação de pobreza em que vivem populações
inteiras.
Escrevia Joao Paulo II na referida mensagem:”vai-se afirmando
(…) com uma gravidade sempre maior outra séria ameaça á
paz: muitas pessoas, mais ainda, populações inteiras, vivem hoje
em condições de extrema pobreza. A disparidade entre ricos
e pobres tornou-se mais evidente, mesmo nas nações economicamente
mais desenvolvidas. Trata-se de um problema que
se impõe á consciência da humanidade, visto que as condições
em que se encontra um grande número de pessoas são tais que
ofendem a sua dignidade natural e, consequentemente, comprometem
o autêntico e harmónico progresso da comunidade
mundial”.
Neste contexto, combater a pobreza implica uma análise
atenta do fenómeno complexo que é a globalização. Tal análise
é já importante do ponto de vista metodológico, porque convida
a pôr em prática o fruto das pesquisas realizadas pelos economistas
e sociólogos em tantos aspectos da pobreza. Mas a
evocação da globalização deveria revestir também um significado
espiritual e moral, solicitando a olhar os pobres conscientes
da perspectiva de que todos somos participantes de um único
projecto divino: chamados a constituir uma única família na
qual todos os indivíduos, povos ou nações, regulam o seu comportamento
segundo os princípios da fraternidade e responsabilidade.
Mas muito mais do que o fantasma da globalização ou a natureza
das politicas publicas dos últimos anos, é o atraso económico
que explica a brutalidade dos números da pobreza ou a incidência
do índice que mede as desigualdades sociais neste pais,
nomeadamente na Região Autónoma da Madeira. O fosso entre
o país que se projecta nos fatos caros que os executivos vestem
e o país que resiste nos subúrbios parece ser irremediável.
No primeiro, o nível de sofisticação, da exigência e dos salários
não difere muito do padrão europeu; no segundo, centenas
de milhares de portugueses trabalham em fábricas obsoletas e
ineficientes que apenas dão para sobreviver. Por isso, quase metade
dos pobres são trabalhadores assalariados, como concluía
um estudo recente de Bruto da Costa. Por isso há quase um milhão
de portugueses que vive com menos de 10 euros por dia como
mostrou o relatório sobre a situação na União Europeia.
Até lá essa imagem deprimente entre a riqueza ostentatória,
alguma sem sabermos de onde veio, melhor, saber sabemos,
mas tentamos fazer de conta porque o poder alimenta estes
impérios da corrupção, interesses e subornos que atraiçoam os
valores da igualdade, transparência e justiça que fundamentam
o ideal da democracia. Por outro lado a pobreza chocante coexistente
continuará a insinuar-se sempre que houver estudos
sobre as desigualdades sociais, como aqui na Madeira, onde
“certas vozes” continuam a afirmar que os estudos não são fiáveis
porque o que interessa é tornar possível o funcionamento
de uma economia paralela, “legitimada” pelos poderosos bem
como o seu impacto na esfera politica e social.
Com a devida vénia DIÁRIO CIDADE
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