domingo, 14 de dezembro de 2008

Parabéns, Professor Marcelo















Aniversário.
Marcelo Rebelo de Sousa faz hoje 60 anos. Uma data como as outras? Não. O 'enfant terrible' do PSD chegou à idade da razão presidencial. Se Cavaco Silva recusar um segundo mandato, é Marcelo que estará na primeira linha de uma candidatura de direita. O homem que já foi quase tudo em Portugal, simultaneamente actor político e comentador político em permanência, falhou vários combates, da presidência da Câmara de Lisboa à malsucedida liderança do PSD. Prepara-se há anos para o topo do regime. Já nem esconde em público que esse é o caminho Marcelo faz 60 anos. Chega, enfim, à idade presidenciável Por motivos inexplicáveis, o vox populi nacional só regista dois "professores" na política activa: o "prof." Cavaco Silva e o "prof." Marcelo Rebelo de Sousa. Hoje, o professor Marcelo, que sonha substituir o professor Cavaco Silva, chega à idade em que, em Portugal, se pode pensar com realismo no topo da carreira política, a instalação no Palácio de Belém: 60 anos. Nem sempre foi assim: Ramalho Eanes tornou-se presidente da República aos 41 anos, mas também isso foi produto das contigências de uma revolução feita por homens muito jovens, na sua maioria. (E talvez seja demasiado discorrer aqui sobre a revolução que se operou na noção de idade dos anos 70 até hoje.) Marcelo já não esconde o seu desejo de poder vir a substituir Cavaco Silva - será candidato se inesperadamente o actual Presidente recusar um segundo mandato, será candidato com toda a segurança em 2014, se ninguém no PSD se atravessar no caminho: José Manuel Durão Barroso, em 2014 um ex-presidente da Comissão Europeia que não enjeitará uma proposta assim. A personagem com o sentido mais lúdico do "dever" que existe no regime, o homem antítese do formalismo de Estado, o candidato que mergulhou no Tejo numa acção de campanha para a sua (falhada) tentativa de ser presidente da Câmara de Lisboa, em 1989, o homem que segundo Paulo Portas jornalista lhe fez um relato de um jantar em que nem a vichyssoise alegadamente servida era verdade, o homem que, enquanto líder do PSD, tenta cortar com o legado cavaquista e força António Guterres a fazer o referendo à regionalização, conduzindo o PS a uma derrota (idêntica operação fez com a despenalização do aborto, conduzindo a nova derrota do PS, mas aí já não do católico António Guterres). É este o homem que falhou uma carreira de primeiro-ministro - mais uma vez os seus caminhos cruzaram-se com Portas e o desastre foi total - e que poderá ser o próximo presidente da República, se a esquerda não engendrar um candidato que o enfrente com sucesso. Marcelo Rebelo de Sousa foi tudo: director do Expresso, fundador do Semanário, membro do Governo, fazedor de reis, conspirador permanente, emérito professor de Direito, genial estratega, comentador político permanente, amante do desporto e de quase tudo. Um homem sem sono, um dos filhos mais criativos que produziu a revolução dos homens sem sono. Parabéns, professor.

ANA SÁ LOPES

Com a devida vénia: Diário de Notícias

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