sexta-feira, 21 de novembro de 2008

"Recomendações a um moralista"













Ao ler a epístola do Sr. Edgar Silva publicada na edição de 18/11/08, e perante semelhante manifestação de sentimento de horror pela exibição da bandeira nazi no parlamento regional, custa-me a crer que uma alma tão impressionável e uma mente tão culta (a julgar pelas citações que emprega) não fique também horrorizada com a exibição pública da foice e do martelo da bandeira do PCP.

Seria de esperar que já tivesse antes escrito uma outra horrorizada carta a execrar a "monstruosidade" que foi o comunismo, sob cuja bandeira foram já eleitos diversos deputados regionais. Mas não. Despertada do "sono dos justos", essa susceptível alma só tem olhos para a satânica bandeira nazi. Que espantosa sensibilidade selectiva. Se calhar os cerca de 100 milhões de mortos causados pelo comunismo não foram um «genocídio organizado». Mataram-se a eito, tipo moeda ao ar, 20 milhões na União Soviética, 65 milhões na China Comunista, e dezenas e dezenas de milhões no Vietname, na Coreia do Norte, nos países satélites da Rússia comunista, em Cuba, etc., mas isso são bagatelas insignificantes. Amendoins ou tremoços certamente. Números que uma prestimosa carta de leitor sobre os horrores do nazismo logo faz esquecer e até redimir.

Caro Senhor, perceba que possam existir pessoas que, conhecendo e condenando todos esses horrores (do nazismo, mas também do comunismo, do nacionalismo, do africanismo ou do arabismo), não estão petrificadas por complexos de esquerda, nem por idiotices politicamente correctas.

Já agora, caso queira continuar horrorizado - há quem goste desse estado - recomendo, aproveitando a febre consumista desta época do ano, a compra do Livro Negro do Comunismo, e depois então "falaremos" sobre o «inconcebível». Mas entretanto, e para terminar, lembro o aforismo de um poeta russo que teve a sorte de não figurar na interminável lista de mortos em "gulags": se tiveres de rastejar, rasteja.

Por: Baltasar Aguiar

Com a devida vénia: Diário de Notícias

Por:
Baltasar Aguiar

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