
Comunista convicto, filho de um poeta popular e deputado regional eleito por um partido de direita, José Manuel Coelho provocou esta semana um verdadeiro abalo na Assembleia Regional da Madeira ao desfraldar uma bandeira nazi.
O deputado eleito pelo PND, que acusou alguns deputados sociais-democratas de "comportamentos fascistas", e que desfraldou a bandeira nazi para chamar a atenção para a alegada falta de democracia na Madeira, cresceu entre Santa Cruz e o Funchal ajudando o seu pai na profissão de poeta.
"O meu pai era um poeta popular tipo António Aleixo que fazia versos, e eu fazia isso com ele", descreve o deputado.
Dificuldades no negócio familiar levaram-no para a construção civil até que foi para Lisboa cumprir o serviço militar, onde se especializou em "transmissões".
Foi no exército que viveu o 25 de Abril, num dia que relembra sobretudo por ter "prendido [com os seus colegas] toda a polícia civil que estava na zona do Marquês [de Pombal]".
Segundo os dados biográficos da página on-line da Assembleia Regional da Madeira, José Manuel Coelho, de 55 anos, encontra-se actualmente desempregado.
O deputado do PND/M é, apesar disso, mais conhecido por ser pintor da construção civil, vendedor do jornal satírico "O Garajau" ou ainda por de ser um "comunista convicto", militante do Partido Comunista Português (PCP), de cuja DORAM (Direcção da Organização da Região Autónoma da Madeira) chegou a fazer parte.
"Quando voltei para a Madeira, após o 25 de Abril, inscrevi-me no Partido Comunista", diz, relembrando que foi "delegado do partido em todos os congressos, candidato a deputado, e candidato a autarquias", relembra.
O seu amor à foice e ao martelo não o impediu, no entanto, de aceitar ser o terceiro nome da lista do PND, partido conservador-liberal, nacionalista e euro-céptico às eleições legislativas regionais, depois de o deputado do PND/M, Baltasar Aguiar, cunhado do presidente demissionário do PND Manuel Monteiro, lhe ter cedido o lugar em Maio de 2005.
"Mas sou sempre do PCP e comunista", sublinha, justificando integrar o PND porque o "PND-M é apenas um grupo de cidadãos que se opõme ao regime jardinista e não propriamente um partido de direita", acrescentando que "no sistema proto-fascista em que vivemos, os comunistas têm que fazer alianças mesmo com a direita".
Em 1981, por ocasião do 50º aniversário do "Avante", José Manuel Coelho foi um dos 20 portugueses contemplados pelo PRAVDA do PCUS a visitar a ex-União Soviética pelo volume de vendas (100 por semana) do jornal do Partido Comunista Português: "Estive em Kiev, Moscovo e Leninegrado, hoje São Petersburgo".
"Eu era o maior vendedor do jornal 'Avante' que havia na Madeira", sublinha.
Colocado na "prateleira" mas não expulso do PCP por ter criticado um dirigente sindical comunista do Sindicato da Construção Civil, este distribuidor do "Avante", com o 12º ano de escolaridade, ocupa neste momento o cargo de deputado do PND, sendo membro integrante da Comissão Permanente e da Comissão de Regimentos e Mandatos, na Assembleia Regional da Madeira.
José Manuel Coelho continua a vender jornais, nomeadamente o quinzenário "Garajau", tarefa a que se voltou a dedicar depois de ter provocado o encerramento dos trabalhos da ALM depois de exibir uma bandeira nazi durante uma sessão de trabalhos.
"Comprámos a bandeira por intermédio de um membro da Fundação Social Democrata mas ele pediu para não revelar o preço", explicou à Lusa Joel Viana do PND.
Esta não foi a primeira vez que o deputado do PND/M provocou a suspensão dos trabalhos parlamentares madeirenses. Já em Maio deste ano este deputado provocou a interrupção da agenda parlamentar quando se apresentou na sessão plenária com um relógio de cozinha pendurado ao pescoço numa acção de protesto contra o projecto de alteração do Regimento da ALM em preparação pelo PSD-M, que alegadamente retira tempo de intervenção aos partidos da oposição nas suas intervenções e pedidos de esclarecimento.
Também no final de Julho tinha José Manuel Coelho provocado uma interrupção de 15 minutos da actividade da Assembleia Regional por protestos do deputado por a Mesa não ter aceite dois votos de congratulação e protesto do seu partido.
Os votos do PND-M diziam respeito a uma congratulação por Alberto João Jardim se encontrar "finalmente" na Madeira e um outro de protesto por Hugo Chávez, presidente da Venezuela, não ter recebido o presidente do Governo Regional aquando da sua visita àquele país.
Nos seus tempos livres o deputado gosta de ajudar os seus pais, que têm um "pequeno terreno onde praticam agricultura de subsistência".
"As plantas têm uma mensagem que tranquiliza", confessa.
JZGM/EC.
Com a devida vénia Agencia Lusa
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