Quem usa e abusa de Postum Scriptum denuncia uma desactualização e impreparação.

Encanta-me o prazer, e assumo totalmente o pleonasmo, de viver paredes meias, ou quase coincidentes, com a irreverência da mudança. Por isso, preocupa-me a malícia dos que preferem a morbilidade de manter tudo igual, numa tentativa absurda e manhosa de disfarçar fragilidades, preconceitos, incompetência e, no limite, falta de "amor próprio". É normalmente assim com aqueles que insistem em justificar o poder estabelecido, demonstrando estarem absolutamente contagiados pela ronha que, por vezes, também ataca os homens. Não sei nada dessa "parasitose", mas observo alguns indivíduos com ronha e há neles uma espécie de comichão silenciosa que provoca chagas, dores e maleitas incuráveis, remetendo-os para um desassossego sem limites. Vem isto a propósito de um certo político que tem um fascínio pelo postum scriptum (PS). Essa manha, a dele sublinhe-se, de tonificar os textos banais e insonsos com PS's bombásticos deve ter uma razão de ser. Tenho a certeza que tem. Nem percebo como é que ninguém desmontou este hábito antigo, das cartas manuscritas, transferido com soberba, para esta sociedade global ao jeito do regime do PSD, encarnada pelo Jornal da Madeira, esse símbolo máximo da democracia à moda de Jardim. Mas estranho. Estranho mesmo, porque todos sabem que hoje um Postum Scriptum pode sempre ser enxertado, sem problemas ou complicações, com o processador de texto de qualquer computador, anulando a sua relevância e, até, a sua existência. Mas esta simples constatação que poucos reconhecem, reflecte uma verdade incorrigível. O Presidente do PSD da Madeira é um homem do outro tempo. Um homem do passado. Ainda, e será sempre assim, escreve à mão! Está distante, muito longe mesmo, dos desafios do mundo actual. Quem usa e abusa de Postum Scriptum denuncia uma desactualização e impreparação sem limites. Deve ser por isso que prefere ofender em vez de argumentar. Deve ser por isso que prefere atacar em vez de construir. Deve ser por isso que prefere o pensamento curto e limitado, depois da escrita, do que a própria escrita. Deve ser por isso que se "entalou" num fosso sem precedentes, arrastando com ele novos e velhos da sua família política. Mas deve também ser por isso que está longe dos debates da actualidade: da economia e da sua diversificação, nem uma palavra, nem uma ideia sólida, mas de preferência distante da insensatez da Singapura do Atlântico; da nossa economia desconhece, não entende mesmo, o valor do Investimento Directo Estrangeiro, mas idolatra a sua Zona Franca da Madeira, pelos amigos que faz e que alimenta; da nossa economia ignora e despreza o valor da política fiscal mas atreve-se a "dizer coisas" sobre um modelo assente numa fiscalidade mais competitiva; da nossa economia ignora o peso da importância da internacionalização na competitividade das empresas e faz da diplomacia económica um exercício pimba, típico do passado e doutros conceitos; da nossa economia não aceita a importância das finanças públicas estáveis e controladas, preferindo assegurar o dinheiro do dia a dia, mesmo prejudicando a acção governativa no plano social e as gerações vindouras; da nossa economia está, ainda hoje, convencido que uma dívida desproporcional à capacidade de geração de receitas é neutra no crescimento; mas também da nossa educação, nem uma frase digna e consistente, apenas o "berro" estridente por um chapéu meloso e inconsistente do reforço autonómico, inútil nas suas mãos; sobre a inovação, nenhuma justificação do seu próprio fracasso, talvez por nem o entender, e menos ainda, sendo assim bastante grave, um trilho sustentável para a única e razoável possibilidade para o desenvolvimento das regiões; da nossa democracia traz o que herdou há mais de 60 anos, uma concepção salazarenta, permitam-me que sublinhe o paradoxo, fora de moda mas actual sob a sua égide.
Por Carlos J Pereira
Fonte: Diário de Noticias, 24 de Setembro de 2008
1 comentário:
É uma ronha inteligente pois poucos são os que lêem os artigos do sr. AJJ mas são muitos os que vão directamente dar uma olhada no post scriptum...interessa é passar a mensagem...
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