Muito Lixo
É impressionante a quantidade de lixo que se encontra por tudo quanto é sítio, mas muito em especial em duas situações. A primeira, verifica-se nos locais onde passa o pessoal da pesca. Desde as rochas onde praticam a pesca, a espécies quase de aquário, aos portos que utilizam, isto é, tanto os amadores como os profissionais. Imagina-se o que farão ao largo.
A segunda, em tudo o que é local de piquenique. Este povo, dito superior quiçá na estupidez, não é capaz de petiscar sem conspurcar. Não é capaz de voltar com o lixo acondicionado nas suas viaturas até ao próximo local onde possa depositá-lo. Aliás, para mostrar, porque, no contexto em que vivemos, é mais importante mostrar que ser, que se é limpo, que sabemos viver a meio dos ar condicionados e gravatas da terra, lava-se o carro até brilhar, deixando muitas vezes o lixo que lá estava na rua para os outros.
São impressionantes as 9 toneladas de lixo removidas pela Direcção Regional das Florestas, após o Rali Vinho Madeira. É nefasta a ligação desta conspurcação ao turismo e porque não, ao vinho Madeira.
E isto não irá ao seu lugar só com repressão, mas também sê-la-á necessária. Recordo-me de há alguns anos estarmos a preparar um churrasco num espaço público e chegar a guarda-florestal que muito delicadamente nos deu instruções sobre o lixo e sobre o fogo. Não tenho verificado se tal continua a acontecer. Esta conduta é correcta. Deveria ter continuidade, autoridades marítimas inclusive. Mas também nas escolas que já têm um papel fundamental, mas talvez temporário, no sentido de que é rapidamente esquecido. Tem de ser continuamente relembrado. Mas muito mais será necessário! Por exemplo, um pacto entre partidos para, sempre que façam intervenções, sublinhar esta necessidade. Nos arraiais e festas partidárias ou não, para que a componente ambiental substitua a estupidez do ruído e do lixo. Na igreja, dando alguma utilidade às praxes religiosas.
Com o lixo existente no litoral, nos miradouros, levadas e veredas; com a conspurcação sonora em bares, cafés e restaurantes com música ao gosto de quem tem acesso aos aparelhos, televisão bem alta para a telenovela ou o programa de baba e ranho poder ser seguido na cozinha; com o tradicional escarro na rua, qualquer investimento em promoção constitui investimento sem retorno que o justifique. E todos sabemos como a promoção da região tem atingido valores significativos do erário público. É como vender puro-sangue em cavalariças infestadas de moscas e porcaria de meses. É vender Rolls Royce brilhantes em stand conspurcado. É gastar dinheiro chamando clientes em vez de empregá-lo na limpeza e na formação. Os milhões que se gastam para trazer turistas que ficarão com uma impressão negativa, previsivelmente transmitida boca a boca, teriam um melhor resultado se parte fosse para a educação e para a informação ao nível interno.
Sem que os que ocupam lugares de responsabilidade e decisão se apercebam, quiçá porque viajam dentro dos seus automóveis de vidros fumados, entre os seus condomínios fechados e os gabinetes de ar condicionado e os clubes e bares de gente apenas da sua classe, aparente, toda esta poluição, quer visual, do nosso litoral, dos locais de espairecimento na Natureza, agravadas por uma poluição urbanística de excesso de betão armado, de poluição sonora, destrói a qualidade de vida dos que cá vivem ou nos visitam.
Manuel M.
Fonte: Cartas do leitor, Diário de Noticias, 7 de Agosto de 2008
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