Ninguém tem dúvidas que os pequenos atentados mafiosos contra a família do deputado municipal do Funchal revelam o ambiente de mau convívio democrático, sobretudo para com os partidos, grupos ou pessoas que, das mais diversas formas de participação cívica na vida política, seja através da livre expressão do pensamento, – nas assembleias, nas redes sociais, nos portais de informação abertos à interactividade, nas ruas, no local de trabalho, nas instituições – demonstrem pela crítica, pela contestação, pela indignação, pela manifestação, pela greve, enfim pela palavra, uma posição contrária àquela que está convencionada pelo oficioso e por quem governa.
Acredito que há muitos desses maus convivas que são capazes de dizer que o Gil Canha ‘pôs-se a jeito’, ou que ‘estava a pedi-las’ ou outras anormalidades do género. O estranho não é os apaniguados do regime pensarem assim. Estúpido mesmo é o povo reproduzir os mesmos argumentos. Mas há uma explicação para esta iliteracia da cidadania, há razões para esta entrega – cada vez menos generalizada, felizmente - da consciência individual a troco de uma fictícia sensação de pertença ao clã do poder: é o misto de medo e devoção a uma espécie de ‘Cosa Nostra’, propalando o apanágio “Ou nós, ou eles”, cavando no separatismo uma trincheira e prometendo abater quem dali escapar, seja nas administrações, nos tribunais, nos panfletos de Jardim, à porta das discotecas ou mesmo no quintal da sua casa, o seu carro ou o da sua mulher.
Na verdade essa pide ideológica tem germinado ao longo de mais de 30 anos na sombra do poder absoluto e maioritário e cultivando um ambiente de iliteracia intelectual no seu povo, elementos, aliás, propícios aos novos vírus da democracia que se desenvolvem nas brumas de uma memória e raciocínio anestesiados pela poncha, pelo vinho seco e pelos arraiais de musica pimba à borla. Afinal os bons e maus madeirenses dividem-se entre aqueles que ‘estão connosco’ e os que ‘estão contra nós’. Quem discorda leva para casa o repto de comunista ou enão está feito com os senhores de Lisboa. Quem critica é um ordinário ousado e sem vergonha. Quem reage é fascista e se responder à letra, fizer frente e tiver dinheiro para gastar em tribunal é despromovido a colonialista com o título de senhor da Madeira Velha. Eu que sou jornalista e estou para aqui com estas conversas, a pensar alto, num exercício de cidadania imune à censura e tranquilo com a minha consciência, sou um “bastardo” para não ser o tal filho da mãe que ninguem quer ter.
No caso de Gil Canha, ou pior, a família dele, está a ser vítima da retaliação de concertadas acções de terrorismo político em estado embrionário, porque todos nós sabemos a influência do deputado municipal no PND que o poder tanto abomina por usar a figura do espelho invertido, ou seja, a mesma linguagem, o mesmo confronto que o poder mas reflectindo sobre a sua imagem os podres do regime. Tão ou mais preocupante do que os vis actos de vingança é o aterrador silêncio da maioia das facções políticas em torno destes ataques infames protagonizados por mercenários a mando de autores (i)morais cobardes e sem escrúpulos que até arrepia pensar sequer que poderão estar na vida política.
Reduzir isto a incidente é um acto imprudente, desonesto e conivente com uma sucessão de acontecimentos que não dignificam a história recente desta imatura democracia. Estar calado sem repudiar é dar o flanco à propagação de um vírus idêntico à dos tempos da Flama (mais um produto de amedontramento civil) mal tinha a democracia despertado. É consentir e alinhar, porque sim e até dá jeito, na indústria da “Protecção Forçada”,uma adaptação da máfia siciliana, caindo no logro de adoptar para si um recalcamento doentio e um ódio de estimação de uma pessoa idosa contra os “senhorios da Madeira Velha”. Enfim, um estapafúrdio que não é do nosso tempo político nem relevante para o nosso futuro. Ao fm ao cabo é este o legado que estamos a deixar aos nossos filhos, após 38 anos de liberdade: uma democracia de bibelô inócua para agradar à vista e que mais vale nem tocar para evitar chatices.
Por: Ricardo Duarte Freitas
Fonte: DN Madeira
Acredito que há muitos desses maus convivas que são capazes de dizer que o Gil Canha ‘pôs-se a jeito’, ou que ‘estava a pedi-las’ ou outras anormalidades do género. O estranho não é os apaniguados do regime pensarem assim. Estúpido mesmo é o povo reproduzir os mesmos argumentos. Mas há uma explicação para esta iliteracia da cidadania, há razões para esta entrega – cada vez menos generalizada, felizmente - da consciência individual a troco de uma fictícia sensação de pertença ao clã do poder: é o misto de medo e devoção a uma espécie de ‘Cosa Nostra’, propalando o apanágio “Ou nós, ou eles”, cavando no separatismo uma trincheira e prometendo abater quem dali escapar, seja nas administrações, nos tribunais, nos panfletos de Jardim, à porta das discotecas ou mesmo no quintal da sua casa, o seu carro ou o da sua mulher.
Na verdade essa pide ideológica tem germinado ao longo de mais de 30 anos na sombra do poder absoluto e maioritário e cultivando um ambiente de iliteracia intelectual no seu povo, elementos, aliás, propícios aos novos vírus da democracia que se desenvolvem nas brumas de uma memória e raciocínio anestesiados pela poncha, pelo vinho seco e pelos arraiais de musica pimba à borla. Afinal os bons e maus madeirenses dividem-se entre aqueles que ‘estão connosco’ e os que ‘estão contra nós’. Quem discorda leva para casa o repto de comunista ou enão está feito com os senhores de Lisboa. Quem critica é um ordinário ousado e sem vergonha. Quem reage é fascista e se responder à letra, fizer frente e tiver dinheiro para gastar em tribunal é despromovido a colonialista com o título de senhor da Madeira Velha. Eu que sou jornalista e estou para aqui com estas conversas, a pensar alto, num exercício de cidadania imune à censura e tranquilo com a minha consciência, sou um “bastardo” para não ser o tal filho da mãe que ninguem quer ter.
No caso de Gil Canha, ou pior, a família dele, está a ser vítima da retaliação de concertadas acções de terrorismo político em estado embrionário, porque todos nós sabemos a influência do deputado municipal no PND que o poder tanto abomina por usar a figura do espelho invertido, ou seja, a mesma linguagem, o mesmo confronto que o poder mas reflectindo sobre a sua imagem os podres do regime. Tão ou mais preocupante do que os vis actos de vingança é o aterrador silêncio da maioia das facções políticas em torno destes ataques infames protagonizados por mercenários a mando de autores (i)morais cobardes e sem escrúpulos que até arrepia pensar sequer que poderão estar na vida política.
Reduzir isto a incidente é um acto imprudente, desonesto e conivente com uma sucessão de acontecimentos que não dignificam a história recente desta imatura democracia. Estar calado sem repudiar é dar o flanco à propagação de um vírus idêntico à dos tempos da Flama (mais um produto de amedontramento civil) mal tinha a democracia despertado. É consentir e alinhar, porque sim e até dá jeito, na indústria da “Protecção Forçada”,uma adaptação da máfia siciliana, caindo no logro de adoptar para si um recalcamento doentio e um ódio de estimação de uma pessoa idosa contra os “senhorios da Madeira Velha”. Enfim, um estapafúrdio que não é do nosso tempo político nem relevante para o nosso futuro. Ao fm ao cabo é este o legado que estamos a deixar aos nossos filhos, após 38 anos de liberdade: uma democracia de bibelô inócua para agradar à vista e que mais vale nem tocar para evitar chatices.
Por: Ricardo Duarte Freitas
Fonte: DN Madeira
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